Filósofo aponta individualismo excessivo como forma de degradação do país

Soraya Mendanha | 26/10/2012, 09h50

Na palestra de encerramento do segundo ciclo de debates do Fórum Senado Brasil 2012, na quinta-feira (25), o filósofo Auterives Maciel Júnior apontou o individualismo exacerbado como uma das principais formas de degradação do país.

– Estamos deixando morrer o espírito mestiço, heterogêneo que fez a nação. O Brasil pode se tornar um canteiro de seres individualistas – afirmou o professor da PUC-Rio, em palestra intitulada “Construção e degradação do Brasil: quando o interesse se sobrepõe ao desejo”.

Auterives Maciel explicou que os termos construção e degradação não devem ser pensados como termos opostos que se referem à ascensão e depois decadência do Brasil, mas sim como práticas que coexistem na sociedade. Segundo ele, o país se divide em dois, um potente e empenhado em construir e outro que cria obstáculos ao desejo coletivo.

Referindo-se às práticas que levam à degradação do país, o filósofo destacou que na sociedade brasileira atual existe um jogo de interesses permeando as relações pessoais. Em sua análise, os indivíduos estão priorizando o capital e o mercado, em detrimento das relações afetivas.

Auterives ressaltou a necessidade de os brasileiros resgatarem o lado afetivo herdado dos índios e negros e alertou para o perigo do individualismo se sobrepor à solidariedade.

– Talvez a gente tenha se esquecido da nossa origem. Talvez a gente tenha se esquecido desse lado nativo que sempre fez a diferença do Brasil no mundo e talvez o Brasil venha a se transformar em um país de gângsteres e bandidos que só se interessam pelo mercado – disse.

Corrupção

Auterives lamentou a presença da corrupção – outra forma de degradação do país – em diversos estímulos que o indivíduo recebe desde a infância. A prática, ressaltou, não está presente somente nos altos níveis de poder, mas também nas relações de todos os cidadãos, igualmente atores nas práticas de construção e degradação.

– Entendo que as relações interpessoais refletem as autoridades que são eleitas como ideais da nação – destacou.

Indagado sobre o que fazer para mudar a situação, o filósofo afirmou que é preciso convocar as pessoas a fazer uma reflexão crítica pensando no outro e apontou o afeto como sentimento essencial entre os seres humanos.

– Se a gente for capaz de despertar no outro afeto e ideias que sejam benéficas talvez a gente melhore o nosso modo de viver – disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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