Agraciados com Comenda Dom Hélder Câmara apelam em favor dos desprotegidos e discriminados

Da Redação | 02/12/2015, 18h41

Na sessão especial que marcou a entrega da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, nesta quarta-feira (2), em Plenário, personalidades agraciadas falaram de suas esperanças de uma vida melhor para todos os brasileiros, apelando por ações da sociedade, de governantes e legisladores por medidas em favor dos grupos mais desprotegidos e discriminados. A comenda é concedida anualmente pelo Senado e chegou agora à sua terceira edição.

— Que o Brasil seja uma festa de cidadania, onde todos possam ter direitos. Onde ninguém seja discriminado porque é homossexual, evangélico, espírita, católico, branco ou negro, ou por ter alguma deficiência — afirmou o padre Paulo Roberto, um dos sete agraciados.

Nascido no Amapá, o padre foi um dos fundadores do Instituto de Câncer Joel Magalhães, em Macapá, onde participa ativamente de movimentos afrodescendentes.

Antes dele, ao agradecer sua indicação, a desembargadora Maria Berenice Dias, do Rio Grande do Sul, cobrou medidas para a superação de preconceitos e da violência contra membros da comunidade LGTBI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros e intersexuais).

— Este é o país onde mais se matam homossexuais no mundo. A cada 28 horas, no Brasil, mata-se um homossexual, por sua orientação sexual ou pela diversidade de gênero. Precisamos mudar essa realidade. Para isso, não basta haver pessoas que se dedicam, não basta só o Judiciário conceder direitos. É preciso haver uma legislação — cobrou.

A desembargadora apelou particularmente aos senadores pela aprovação de projeto de lei em tramitação na Casa que adota conceito mais abrangente de família, não contemplando apenas as que são constituídas pela união de um homem e uma mulher. Ela anunciou ainda que será encaminhada ao Senado, por iniciativa popular, proposta relativa ao Estatuto da Diversidade Sexual.

A pedagoga Yvonne Bezerra de Mello, fundadora do Projeto Uerê, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, pediu aos senadores um novo “olhar” para a infância. Primeira pessoa a chegar ao local da chacina da Candelária, em 1993, no Rio de Janeiro, onde oito menores foram assinados por policiais militares, Yvonne disse que ainda continua “enterrando” crianças. Segundo ela, o Estatuto da Criança e do Adolescente não funciona, pois as medidas não são implementadas.

Diferença

A sessão especial foi dirigida pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que preside o conselho responsável pela atribuição da Comenda Dom Hélder Câmara, a partir de indicações feitas pelos parlamentares da Casa. Crivella assinalou que a solenidade anual é sempre uma oportunidade para o reconhecimento de personalidades que “fazem diferença no nosso País, quando o tema envolve gente que se preocupa e se ocupa com gente”.

— São pessoas que fazem da luta pelos direitos humanos uma motivação para a própria existência. São pessoas que, defendendo os direitos básicos da população, fazem-nos crer na bondade humana, na justiça social e em um mundo melhor — destacou.

Contemplados

O grupo de personalidades contempladas na edição desse ano inclui ainda Cesare de Florio La Rocca, criador do Centro Projeto Axé de Defesa e Proteção à Criança e ao Adolescente na Bahia; Gleice Francisca Machado, que fundou e preside a Associação Brasileira de Xeroderma Pigmentoso, para dar suporte àqueles que sofrem com a doença de pele.

Completam a lista de agraciados Wellington Dantas Mangueira Marques, diretor-presidente da Fundação Renascer, em Sergipe; e dom Moacyr José Vitti (in memorian), nascido em São Paulo, que foi bispo auxiliar da Arquidiocese de Curitiba em 1987 e, posteriormente, Arcebispo Metropolitano. Morreu aos 73 anos em junho de 2014.

Na solenidade, senadores que patrocinaram cada uma das indicações fizeram a entrega da Comenda e, depois, ocuparam a tribuna para destacar suas biografias e realizações. Outros também usaram a palavra, com elogios especiais às personalidades de seus estados e a todos os agraciados, citados como verdadeiros seguidores das lições e valores defendidos por Dom Hélder.

Para Eduardo Amorim (PSC-SE), os homenageados passam a ser novos exemplos para os brasileiros, que necessitam de líderes capazes de inspirar o país, notadamente nesse momento de crise, que vai além do problema econômico e fiscal, mas também ético.

— Temos o privilégio de realmente ver estes bons exemplos, apontar e dizer: este País tem jeito. Em muitos cantos, temos os "dom hélderes", que sonham com um Brasil melhor, como os exemplos de Cesare, de Gleice, de Maria Berenice, de padre Paulo, de Wellington Mangueira, de Yvonne e de dom Moacyr. Desistir nunca, absolutamente nunca! Não temos este direito — frisou.

A senadora Ana Amélia (PR-RS) ressaltou o ecumenismo da solenidade de entrega da comenda, inspirada na figura de um líder católico com as qualidades de Dom Hélder e dirigida por Crivella, um senador evangélico. Citou ainda a diversidade ideológica e partidária dos senadores que apoiaram os agraciados. E lembrou a diversidade das causas que eles representam – direitos das crianças e adolescentes, da mulher, do idoso, das pessoas carentes, dos deficientes e dos portadores de enfermidades.

— Só o fato de dizer "recebi a Comenda Dom Hélder Câmara" já é motivo de grande orgulho, não fosse pelo mérito, pelo valor, pela relevância social do trabalho que cada um de vocês, homens e mulheres, desempenham. Vocês mereceram essa comenda — afirmou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)