Senado comemora os 120 anos da Amizade Brasil-Japão

Da Redação | 12/11/2015, 17h34

Os 120 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Japão foram celebrados nesta quinta-feira (12), em sessão especial no Plenário do Senado. Nos discursos, parlamentares e convidados que participaram da mesa enalteceram não apenas os vínculos políticos e econômicos construídos entre as duas nações, mas também os laços culturais cada vez mais estreitos, que se evidenciam no Brasil pela absorção de tradições que vieram junto com os primeiros imigrantes nipônicos, ao fim do século passado.

O senador Hélio José (PSD-DF) manifestou o desejo de que as relações de amizade entre o Brasil e Japão se prolonguem e ainda fiquem mais fortes. Na visão dele, a iniciativa é uma justa homenagem a “irmãos que tem nos permitido avançar em tecnologia, em desenvolvimento e, principalmente, na harmonia entre os povos”.

— Só há motivos de júbilo para esse feliz encontro de culturas. Esperamos, sobretudo, que a harmonia que tem marcado essas relações sirva como um parâmetro para que o mundo inteiro repense a forma de tratar os movimentos migratórios que hoje fervilham, principalmente na Europa — disse Hélio José.

A sessão, presidida pelo senador Jorge Viana (PT-AC), contou com a presença, entre os convidados, do embaixador do Japão no Brasil, Kunio Umeda. Após a execução dos hinos dos dois países, por uma dupla de músicos do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, apresentou-se o grupo Matsuri Daiko Brasília de Tambores,cultores de tradição que engloba instrumentação percussiva e dança, originária da região de Okinawa, do sul do Japão.

Kasatu-Maru

O marco das relações entre os dois países foi estabelecido em 5 de novembro de 1895, quando os governos do Brasil e do Japão firmavam o Tratado de Amizade, de Comércio e de Navegação. Treze anos depois, chegavam as primeiras 165 famílias japonesas, no navio Kasato-Maru, no porto de Santos, após 52 dias de viagem.

Os primeiros imigrantes japoneses encontraram trabalho nas lavouras de café de São Paulo, mas foi depois da Segunda Guerra Mundial que o número de imigrantes japoneses aumentou. Hoje, o Brasil acolhe a maior população de origem nipônica fora do Japão, com quase dois milhões de pessoas.

No Japão, está a terceira maior comunidade de brasileiros no exterior, em torno de 180 mil pessoas. O Japão é o sexto maior parceiro comercial brasileiro e, na América Latina, o Brasil é seu principal aliado comercial.

Amazônia

Jorge Viana (PT-AC) disse ser relevante a presença de descendentes japoneses em todo o país, mas fez particular referência à contribuição aos estados da Amazônia.

A cooperação com entidades públicas e privadas do Japão, disse ele, tem sido relevante para estudos e desenvolvimento de práticas de conservação das florestas, revelando a preocupação do povo japonês na busca do equilíbrio entre as atividades humanas e os recursos naturais.

Ao comentar a relação mantida pelos Parlamentos brasileiro e japonês, Jorge Viana apontou a necessidade de ampliação de vínculos entre os legisladores dos dois países.

— Devemos estreitar mais ainda as relações entre os Parlamentos Brasil e Japão. Fica esse compromisso, um desafio que devemos nos impor — opinou.

Orgulho

Em nome do governo japonês, o embaixador Kunio Umeda agradeceu a iniciativa da celebração. Pessoalmente, disse sentir muito orgulho em razão de muitos nipo-brasileiros, em diversas áreas, estarem contribuindo para o desenvolvimento do país.

Para marcar os 120 anos das relações diplomáticas, cerca de 450 eventos estão sendo realizados esse ano em todo o país, informou o embaixador. As celebrações trouxeram ao Brasil, entre 28 de outubro a 8 de novembro, o príncipe Akishino, filho mais novo do imperador Akihito, que veio com a princesa Kiko. O casal foi recebido pela presidente Dilma Rousseff e visitou cinco estados, entre os que reúnem maior presença de nipo-brasileiros.

— Agora, como ponto mais alto das celebrações do Japão deste ano memorável, estamos trabalhando para a visita da presidente Dilma Rousseff ao Japão. Estão agendadas conversações sobre diversas áreas, como economia, educação, ciência e tecnologia, esporte, turismo, segurança, entre outras — comentou.

Desenvolvimento

Os grandes projetos em cooperação técnica com o Japão, na década de 1970, como o Projeto de Desenvolvimento dos Cerrado (Prodecer), foram lembrados por Wellington Fagundes (PR-MT).

— Se hoje somos um dos maiores produtores de soja do mundo, foi partir dessa cooperação de grandes proporções que logramos alcançar os elevados patamares de produtividade em um solo ácido e até então considerado um dos mais estéreis em termos agrícolas — afirmou.

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) destacou a contribuição da imigração japonesa para seu estado, a partir do fluxo migratório que começou em 1929 e seguiu até durante a década após 1952. Atraídos pela oferta de lotes de terra, esses imigrantes deram impulso à agricultura no estado, como já haviam feito em outras regiões do país.

Flexa observou, contudo, que a contribuição nipônica vai muito além do setor agrícola. Salientou a participação japonesa no desenvolvimento da indústria siderúrgica nacional, inclusive na implantação da Usiminas e a então Vale do Rio Doce.

— Ainda agora o governo japonês, através da sua Agência de Desenvolvimento, a Jica, está financiando o governo do Pará para a instalação do BRT na região metropolitana da capital da nossa cidade de Belém — registrou.

O cônsul geral honorário do Japão em Belo Horizonte, Wilson Nélio Brumer, que já presidiu a Usiminas, reconheceu que as parcerias comerciais entre os dois países estão se ampliando. No entanto, ele observou que o Brasil ainda permanece como exportador de matéria-prima, enquanto importa do Japão produtos de maior valor agregado.

— Nosso desafio é aproveitar o ambiente favorável de cooperação e trazer para o Brasil empresas que possam agregar valor e tecnologia — disse, ao destacar a prioridade para a relação com médias empresas.

Mulheres

O fortalecimento do papel das mulheres na sociedade e economia, no Brasil e no Japão, foi destacado por Chieko Aoki, fundadora e presidente da rede Blue Tree de Hotéis.

— Hoje, o Japão é um grande protagonista do novo papel da mulher na sociedade. [O país] criou políticas focadas na mobilização das mulheres como maior potencial para o crescimento do Japão — contou.

Chieko Aoki relatou trocas de experiências com o Japão, envolvendo grupo de 600 mulheres empresárias brasileiras, do qual faz parte, que busca ampliar a participação feminina na geração de riquezas no país.

— Nós, mulheres, queremos colaborar para que relações entre os dois países sejam cada vez mais fortalecidas, com a grande participação das mulheres brasileiras e japonesas. Todas justas, para o fortalecimento de nossos países e para um mundo melhor.

O monge Shôjo Sato, responsável pelo tempo budista de Brasília, netos de japoneses imigrantes que foram lavradores em São Paulo, foi um dos convidados. Depois de se apresentar como um “mestiço”, ele enfatizou a diversidade étnica e cultural do país.

Observou que a forte presença cultural nipônica acontece inclusive em Brasília, onde os japoneses foram chamados por Juscelino Kubitschek para garantir que a nova capital começasse a ser abastecida localmente com produtos da terra.

— E os japoneses, além de nos trazer alimentos, trouxeram flores e também a sua cultura, na forma do budismo. Tenho muito orgulho em dizer que sou brasileiro de ascendência nipônica — declarou.

Também participou da sessão o deputado federal William Woo (PV-SP), um dos cinco parlamentares nikkeys que integram a Câmara dos Deputados, que preside o Grupo Parlamentar Brasil-Japão.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)