Presidentes de federações pedem 'futebol para todos' na CPI do Futebol

Guilherme Oliveira | 21/10/2015, 19h15

A CPI do Futebol recebeu nesta terça-feira (21) os presidentes de sete federações estaduais de quatro regiões do país. Eles relataram a realidade de seus estados, pediram unidade nos esforços para melhorar o futebol brasileiro e argumentaram que a administração e a legislação que orientam o esporte não dão suficiente atenção aos times pequenos.

 Precisamos entender que a legislação é feita para todos os clubes. Um clube grande pode se adequar, mas um humilde não tem essa estrutura. Há presidentes de clubes menores e organizados que estão desistindo. Precisamos ter exigências, mas de formas diferentes para grandes e pequenos – defendeu Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista de Futebol (FPF).

Os dirigentes criticaram a Lei Pelé, que segundo eles, enfraqueceu os clubes ao retirar deles muitos direitos nas negociações de contratos de jogadores e garantias de retorno financeiro que davam segurança à formação de atletas. Gustavo Vieira, da Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo (FES), disse que isso tornou o modelo brasileiro insustentável.

 O desenvolvimento esportivo no Brasil se dá exclusivamente através dos clubes, e não através das escolas e universidades, como em outros países. Temos que aprimorar o mecanismo de proteção aos clubes formadores, que hoje é praticamente inexistente. Eles são, talvez, a única chance de inclusão social de jovens de áreas de risco - disse.

Vieira questionou também algumas das exigências do recém-sancionado Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut), que refinancia dívidas de clubes mediante o cumprimento de normas administrativas. Algumas dessas práticas, como a regularidade fiscal e a negativa de débitos com a Receita, são exigidas de todos os clubes do país, mesmo aqueles que não aderirem ao Profut. Para Vieira, isso será o “genocídio” de agremiações de menor porte.

André Luiz Pitta Pires, da federação Goiana de Futebol (FGF), rejeitou a possibilidade de fim dos campeonatos estaduais, que tiraria atividade dos clubes menores, e também reforçou que o futebol nacional precisa “alavancar” as categorias de base, para manter no país atletas jovens que, hoje, vão muito cedo para o exterior. Mauro Carmélio Costa Júnior, da Federação Cearense de Futebol (FCF), defendeu o estímulo à formação esportiva nas escolas, de modo a aliviar os clubes.

O presidente da Federação Amapaense de Futebol (FAF), Roberto Góes, pediu atenção para a realidade dos estados menores. Segundo ele, a atual gestão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) melhorou esse aspecto. Góes elogiou o presidente Marco Polo Del Nero e disse que o caminho para a evolução institucional do futebol brasileiro não é através de críticas.

 Nosso objetivo é melhorar o futebol brasileiro, não caçando as bruxas ou apontando defeitos, mas sim buscando soluções - afirmou.

Heitor Luiz da Costa Junior, da Federação de Futebol do Estado de Rondônia (FFER), e Evandro Carvalho, da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), completaram a mesa da audiência.

Perguntas

O presidente da CPI, senador Romário (PSB-RJ), questionou os dirigentes a respeito de vários aspectos de suas relações pessoais e profissionais com a diretoria da CBF. Romário perguntou aos presidentes das federações goiana, capixaba, rondoniense e amapaense sobre o andamento da construção de centros de treinamento – uma promessa da CBF aos estados que não sediaram a Copa do Mundo de 2014.

Em Rondônia, o terreno para a obra já foi adquirido e a previsão de inauguração do centro é dentro de seis a oito meses. No Amapá, a CBF ainda trabalha na documentação de compra do terreno, mas ele já está escolhido. Goiás e Espírito Santo ainda estão avaliando possíveis locações. Os centros de treinamento serão inicialmente administrados pela própria CBF, mas os dirigentes acreditam que a entidade buscará parceiros para isso em um segundo momento.

Romário quis saber também sobre a proximidade dos presidentes da FPF, FPF-PE e FGF com o presidente Marco Polo Del Nero, tanto em termos pessoais quanto de negócios. Carneiro Bastos (da FPF), Carvalho (da FPF-PE) e Pitta Pires (da FGF), negaram envolvimento com o mandatário da CBF.

Ao presidente da FFER, Costa Junior, Romário indagou a respeito de sua longevidade à frente da federação. Costa Junior é o único presidente da história da federação rondoniense desde sua fundação, em 1989. O dirigente garantiu que já trabalha na modificação do estatuto para limitar o número de reeleições. Essa é uma das exigências do Profut para entidades de administração do futebol.

Próxima audiência

Romário anunciou que a próxima audiência pública da CPI do Futebol será na próxima quarta-feira (28) e também receberá presidentes de federações estaduais. Os convidados serão os chefes das federações de Acre, Alagoas, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Piauí e Roraima.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)