Sabatina de indicado à ANA mostra preocupação com degradação de rios e desperdício de água

Iara Guimarães Altafin | 16/06/2015, 15h19

Preocupação com a degradação dos rios e com o comportamento perdulário da população em relação ao uso de água permeou as manifestações de senadores na sabatina de Ney Maranhão, indicado diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA).

Após a arguição na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), nesta terça-feira (16), a indicação foi aprovada com treze votos favoráveis e um contrário e vai a Plenário, para votação final.

Para o senador Reguffe (PDT-DF), não há interesse do governo em acabar com o desperdício de água, para evitar novas crises de abastecimento, como as enfrentadas em grandes cidades na Região Sudeste.

— Não se faz nenhum trabalho neste país em termos de conscientizar as pessoas de que a água é um recurso natural finito — lamentou Reguffe.

No mesmo sentido, Lídice da Mata (PSB-BA) disse não haver entre a população a preocupação com a economia no uso dos recursos hídricos.

— A ANA tem que fazer uma ampla campanha nacional de utilização dos recursos hídricos, para chamar a atenção do Brasil para o risco de escassez — defendeu.

Em resposta ao senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que perguntou sobre ações da agência para enfrentar a crise de abastecimento de água, Ney Maranhão informou que a ANA trabalha em um plano nacional de segurança hídrica.

— Já havia sido iniciado e está em desenvolvimento. O plano está avançado e vai colocar em discussão a capacidade de reservação, as áreas críticas, focalizado principalmente no Nordeste, na Região Leste, na Região Sudeste e na Região Sul. São as quatro regiões mais problemáticas do ponto de vista de escassez de água — informou Ney maranhão.

Rios

Ao apontarem a importância da água para produção de alimento, consumo animal, consumo humano e uso industrial, os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Ataídes Oliveira (PSDB-TO) manifestaram preocupação com a “morte” de rios brasileiros, em função da poluição e do assoreamento, resultado de desmatamento e degradação das margens.

— Isso está acontecendo no Brasil todo — alertou Otto Alencar.

No Piauí, relatou Regina Sousa (PT-PI), muitos rios estão secando e muitas cidades não têm como manter o abastecimento de água para a população.

– Um sonho que eu tinha era de que chegasse a hora em que não haveria carro-pipa, mas por conta da secagem dos mananciais, a preocupação agora é aonde os carros-pipa vão pegar água – ressaltou.

Para enfrentar o problema, Ney Maranhão disse ser essencial uma maior integração entre os órgãos federais e estaduais de gestão da água, como vem sendo incentivado pela ANA no programa denominado Progestão.

— A ANA tem feito planos de gestão de recursos hídricos, planos de bacias, para diagnosticar como essas bacias estão hoje e o que precisa ser feito. Ela opera uma rede de qualidade de água e uma rede hidrométrica em conjunto com os estados — disse.

São Francisco

Otto Alencar manifestou especial preocupação com a situação do Rio São Francisco, cuja vazão média, em 2002, era de 2,98 mil metros por segundo e agora não chega a 1,56 mil metros cúbicos por segundo.

— Reduziu pela metade, estamos diante de um quadro muito grave — frisou, ao cobrar do governo providências para a revitalização do rio.

Lídice da Mata concorda que, sem revitalização, os R$8 bilhões investidos na transposição das águas do São Francisco estarão perdidos.

Ney Maranhão reconheceu que não foram atingidas as metas previstas para os primeiros dez anos do projeto de revitalização do São Francisco, previsto para vinte anos.

— Terá que ser feito um esforço adicional ou se terá que pensar numa repactuação de cronogramas. E é preciso injetar muito recurso. Temos trabalhado no controle da erosão, na fiscalização preventiva e na preparação de infraestrutura para a revegetação da bacia — contou.

Irrigação

Os senadores apontaram ainda a necessidade de redução da quantidade de água utilizada na agricultura. Conforme Otto Alencar, 72% da água consumida no país vão para irrigação e 11% para a criação de gado, ficando 9% no consumo humano urbano, 7% para a produção industrial e 1% para consumo humano rural.

Em resposta, Ney Maranhão disse que a redução da água para agricultura passa pela transformação tecnológica das culturas irrigadas, para que sejam mais produtivas e eficientes, com menor volume de água.

Conforme exemplificou, a produção de arroz no Rio Grande do Sul, em 2000, consumia 17 mil metros cúbicos de água para produzir três mil quilos de arroz em um hectare. Hoje, disse, são usadas variedades que requerem sete mil metros cúbicos para produzir nove mil quilos de arroz por hectare.

— Sempre que temos possibilidade de criar avanços tecnológicos, precisamos de políticas públicas, de mecanismos para que os agricultores possam fazer as conversões dos seus sistemas, com extensão rural, linhas de crédito, associativismo, descentralização e participação no processo — observou o indicado.

Currículo

Ney Maranhão é formado em Geologia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e tem doutorado em Engenharia Civil, na área de recursos hídricos, pela mesma universidade.

Atuou em empresas de consultoria que prestaram serviços para diversas usinas hidrelétricas, como Itaipu e São Simão, e foi professor e pesquisador em programas de pós-graduação na área.

Atuou ainda na Secretaria de Recursos Hídricos e Saneamento do estado de São Paulo, entre 1999 e 2000, foi superintendente de Planejamento de Recursos Hídricos da ANA, de 2010 a 2013, e atualmente é secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente e secretário-executivo do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)