País enviou navios, soldados e médicos para o conflito

Ricardo Westin | 29/08/2014, 21h50

Em outubro de 1917, o submarino alemão U-93 interceptou o navio a vapor brasileiro Macau nas proximidades da costa espanhola. A embarcação levava café para a França, desafiando o bloqueio imposto pelo kaiser Guilherme 2º. Dois tripulantes do Macau, incluindo o comandante, foram arrastados para dentro do submarino. Logo em seguida, o U-93 disparou um torpedo, e o barco foi a pique. O restante da tripulação se salvou graças a botes salva-vidas. Esse foi o estopim para que o Brasil entrasse na 1ª Guerra Mundial, que havia começado em 1914, há 100 anos.

— A notícia deixou os brasileiros indignados. Em várias cidades, grupos invadiram e saquearam lojas, escritórios e fábricas dirigidas por alemães. Isso pesou na decisão do presidente Wenceslau Braz de entrar na guerra — afirma o jornalista Marcelo Monteiro, autor do livro U-93: A Entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial.

A participação no conflito, porém, foi modesta. O Brasil enviou 13 aviadores para a força aérea britânica e 24 oficiais para o exército francês. Também destacou uma equipe de 150 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros e assistentes, para pôr em funcionamento um hospital brasileiro em Paris. Além disso, o Brasil criou uma divisão com oito navios para atuar no Mediterrâneo. A esquadra, no entanto, enfrentou uma série de reveses no caminho. Os barcos estavam sucateados, o que exigiu demoradas paradas em ilhas do Atlântico e na África. A gripe espanhola praticamente dizimou os combatentes durante a travessia. A divisão naval alcançou Gibraltar em 10 de novembro de 1918, mas não chegou a atuar. A guerra acabaria no dia seguinte.

A Primeira Guerra foi resultado das tensões não declaradas que a Europa vivia desde o final do século 19. Os grandes países buscavam expandir suas áreas de influência e, para isso, investiam em alianças diplomáticas e na aquisição de armamentos. Bastou que o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, fosse assassinado, em 1914, para que o equilíbrio caísse por terra e a guerra explodisse.

— A guerra se deu há cem anos, mas ainda é muito atual. Muitos dos conflitos de hoje começaram por causa dela. A Síria e o Iraque surgiram do esfacelamento do Império Turco-Otomano. A crise entre a Ucrânia e a Rússia tem origens ali, quando acaba o império russo e nasce a União Soviética. É na Primeira Guerra que os EUA passam a atuar de maneira mais intensa no cenário internacional — explica Joanisval Gonçalves, consultor legislativo do Senado especializado em relações exteriores.

Apesar de ter pressionado a Alemanha por vários anos, o Brasil nunca teve notícia dos dois tripulantes do vapor Macau.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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