PEC do Orçamento Impositivo é aprovada em primeiro turno

Soraya Mendanha e Isabela Vilar | 05/11/2013, 21h05

O Senado aprovou nesta terça-feira (5), em primeiro turno, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 22A/2000, que torna obrigatória a execução de emendas parlamentares ao Orçamento da União e cria uma fonte de financiamento estável para a saúde pública.

Conhecida como PEC do Orçamento Impositivo, a proposta foi aprovada após mais de duas horas de discussão, por 62 votos favoráveis, 9 votos contrários e nenhuma abstenção. A medida ainda terá que passar por mais um turno de votação em Plenário, antes de seguir para Câmara dos Deputados.

O presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) informou que os destaques – pedidos de votação em separado de partes do texto principal da proposta – serão examinados ainda na sessão plenária desta quarta-feira (6). O procedimento foi adotado por acordo de lideranças, pois não está previsto no Regimento Interno do Senado, conforme anunciou Renan.

Engodo

Vários senadores manifestaram posição contrária à proposta em seus discursos. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou que a PEC não passa de um “engodo” que não tornará o orçamento da União impositivo. Para o senador, orçamento impositivo existiria de fato se o governo fosse obrigado a executar tudo o que estava previsto e aprovado pelo Congresso Nacional. Jarbas também criticou o fato de, pela PEC, as emendas de liberação obrigatória serem consideradas transferências obrigatórias – o que, para ele, seria uma afronta à Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei 101/2000).

O senador destacou ainda que a proposta, da maneira como foi aprovada em primeiro turno, vai servir apenas para deixar as portas abertas à corrupção e ao surgimento de novos escândalos. Ele disse que, se o texto aprovado for mantido, haverá uma piora ainda maior na imagem do Legislativo.

 Se antes, quando não se tinha certeza da liberação das emendas, parlamentares mal intencionados já transformavam essas verbas em um balcão de negócios, imagina agora com a certeza de que o dinheiro será liberado. Será o paraíso das caixinhas eleitorais – advertiu.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) concordou com Jarbas no que se refere à possibilidade dos escândalos que podem surgir a partir da proposta e lembrou fatos recentes envolvendo a venda e a comercialização de emendas parlamentares. O senador Wellington Dias (PT-PI) argumentou que o risco vale a pena tendo em vista os avanços que a PEC trará no âmbito da saúde, já que, pela primeira vez, uma proposta obrigará que a União destine um valor mínimo para o setor.

Aloysio Nunes ainda levantou outro ponto desfavorável. Segundo ele, a partir do momento que a Constituição diz que o Orçamento tem execução obrigatória no que tange às emendas parlamentares, o resto do orçamento será tratado apenas como uma peça ornamental, quando deveria ser uma lei.

O senador acrescentou que é uma ilusão os parlamentares imaginarem que o simples fato de constar na Constituição a regra da execução de um orçamento garantirá o fato de torná-lo exequível. Para ele, a boa execução de um orçamento demanda equilíbrio e realismo na hora da estimação das receitas.

 Uma boa execução de um orçamento não decorre apenas do comando legal ainda que seja em nível constitucional. O orçamento para ser executado precisa ser equilibrado; é preciso que as receitas sejam estimadas com realismo. Nos Estados Unidos existe até uma comissão externa ao Congresso que estima as receitas – observou.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), não deveria sequer existir a emenda parlamentar, até porque, de acordo com o senador, ela se transforma em um instrumento de desorganização do planejamento público. O senador destacou que "se já é um absurdo a existência da emenda parlamentar, mais absurdo ainda é ela ser impositiva".

 Eu vivi isso, quando era Ministro da Saúde. A prioridade era investir em tal Região, com tal tipo de ação. Vinha a emenda parlamentar que propunha algo absolutamente diferente do local da aplicação e do sentido do objeto dessa aplicação – explicou.

Saúde

O líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), defendeu a aprovação da proposta e afirmou que a destinação de mais recursos para a saúde pública vai “fazer justiça aos pobres do Brasil”, que dependem do atendimento público.

 Só dessas emendas impositivas são R$ 3,9 bilhões que, a partir de 2014, serão incorporados à saúde pública do Brasil. Esse dinheiro vai direto para o custeio da saúde – comemorou Eunício, ao registrar que o governo federal se comprometeu a destinar outros R$ 4 bilhões para a saúde, também a partir de 2014.

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) reiterou a importância das emendas destinadas à saúde, como forma de buscar uma solução para o financiamento do setor. Ele entende, no entanto, que outras medidas são necessárias, como a destinação de 10% do orçamento para ações de saúde.

Atraso

A definição de um acordo sobre a PEC do Orçamento Impositivo atrasou a votação, na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO), do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLN 2/13). O projeto acabou sendo votado pela comissão no dia 24 de outubro, antes da aprovação da PEC pelo Senado. Agora, a votação da LDO pelo Congresso está prevista para 19 de novembro.

De acordo com o texto da PEC aprovado em primeiro turno, é obrigatória a execução de emendas parlamentares até o limite de 1,2% da receita corrente líquida (RCL) da União no exercício anterior. O texto original previa o limite de 1%, que foi aumentado após acordo do governo com a base aliada. Desse total, 50%, ou seja, 0,6% da RCL terão que ser aplicados na área de saúde.

Outro aumento dos recursos para a saúde, incluído durante a tramitação no Senado e aprovado em primeiro turno foi a previsão de que a União destine de 15% da RCL para a área. Atualmente, somente os estados e municípios têm percentuais definidos pela lei que regulamentou a emenda constitucional 29 (12% e 15%, respectivamente). O mínimo a ser aplicado pela União é definido com base no valor empenhado no ano anterior acrescido da variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB), o que, hoje, representa em torno de 13% da RCL.

Os 15% devem ser atingidos gradualmente após cinco anos. O percentual mínimo obrigatório será de 13,2% em 2014; 13,7% em 2015; 14,1% em 2016; 14,5% em 2017 e 15% em 2018. Para chegar aos 15% serão computados os recursos das emendas parlamentares e dos royalties do petróleo.

Outras mudanças

Outra alteração feita no Senado exclui a exigência de adimplência de estados, do Distrito Federal e de municípios – não poderá haver pendências junto ao governo federal – na hipótese de serem destinatários de transferência obrigatória da União para execução de emendas parlamentares. O texto também estabelece que este repasse não integrará a base de cálculo da RCL para fins de aplicação dos limites de despesa com pessoal ativo e inativo fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Os senadores também vincularam o rol de impedimentos técnicos à execução das emendas parlamentares ao art. 166 da Constituição Federal, e não mais ao art. 35 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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