Petrobras descarta unidade de processamento de gás natural no Centro-Oeste

Anderson Vieira | 11/09/2013, 16h25

A instalação de uma unidade de processamento de gás natural na região Centro-Oeste está fora dos planos da Petrobras. Estudos de viabilidade econômica apontaram ser inviável o empreendimento, segundo o diretor da Área de Gás e Energia da petrolífera, Alcides Santoro Martins, que participou de uma audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado nesta quarta-feira (11).

A informação frustrou os senadores, que cobraram da empresa a instalação de uma planta na região. Eles alegam que 600 quilômetros do gasoduto Bolívia-Brasil cortam o Mato Grosso do Sul sem que haja qualquer tipo de aproveitamento local do produto, e a instalação de uma unidade separadora permitiria a exploração das substâncias químicas presentes na composição do gás, como metano, etano, propano, butano e outros elementos.

– Fico decepcionado com a postura da Petrobras, que parece ter comportamento esquizofrênico. Apresenta-se como estatal quando lhe interessa e, quando não é o caso, alega ter de respeitar os interesses dos acionistas privados. Se não tem interesse em beneficiar a população do Centro-Oeste por que não libera para outras empresas investirem? Espero que companhia abra as portas para entendimentos. Se não quiser investir, que estenda a oportunidade à iniciativa privada – afirmou Ruben Figueiró (PSDB-MS).

O diretor da Petrobras Alcides Santoro Martins negou que os estudos de viabilidade econômica da empresa estejam defasados e garantiu que os dados de taxa de retorno e os valores de investimento mostram não ser viável o empreendimento.

– Sinto frustrar as expectativas, mas não é viável economicamente. Além disso, a Petrobras tem que elaborar seus projetos com economicidade, sob o risco de não serem aprovados. E ainda pode sofrer até com fiscalização do Tribunal de Contas da União – explicou.

Segundo o executivo, Mato Grosso do Sul é um estado importante para a Petrobras, que está investindo numa unidade de fertilizantes nitrogenados na cidade de Três Lagoas, região leste do estado, onde haverá produção de ureia e amônia para atender a demanda nacional em substituição ao produto importado. Em 2012, o Brasil importou cerca de 73% de sua demanda de fertilizantes nitrogenados, utilizados principalmente nas culturas de cana, milho, algodão e café.

Transporte

Os custos e os riscos do transporte rodoviário do GLP de São Paulo até a região Centro-Oeste do país preocupam os parlamentares. O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) lembrou que a produção de GLP no Centro-Oeste é inexistente e chega tudo de caminhão, o que é perigoso.

– Precisamos buscar uma alternativa. Seja por uma planta separadora de gás, pela busca de novas jazidas ou por meio de dutos. Precisamos acabar urgentemente com esse trança-trança de caminhões pelas estradas. O perigo é grande e o custo aumenta muito – afirmou.

Com a experiência de mais de 50 anos no setor, o empresário Ueze Zahan, presidente da Copagaz, disse que o GLP é o derivado do petróleo mais perigoso que existe e já matou milhares de pessoas no Brasil.

– Se um quilo de gás vazando de um botijão mata uma família inteira e destrói uma casa, imagina 30 toneladas escapando de um caminhão? O transporte de gás no Brasil sempre me apavorou – disse.

Segundo ele, a Copagaz tem uma frota de 200 caminhões-tanque, que são trocados a cada quatro anos por questões de segurança.

Ueze Zahan lutou durante anos pelo endurecimento das normas de segurança relativas a botijões de gás para uso doméstico e lembrou que até há pouco tempo havia uma explosão a cada quatro dias no Brasil, resultado principalmente da existência de milhões de botijões vencidos e nunca testados.

– Hoje há lei obrigando as empresas a realizarem testes periódicos dos botijões a cada dez anos. O resultado é que estamos há 670 dias sem nenhum registro de acidente – explicou.

Conversa

O representante da Petrobras admitiu não ter no momento uma solução para mudanças no sistema de transporte do GLP, mas propôs receber parlamentares, empresários da iniciativa privada e representantes da Liquigás, subsidiária da Petrobras que atua na distribuição de GLP. A iniciativa agradou a Ruben Figueiró.

– A Petrobras estendeu a mão à iniciativa privada e deve, com a força que tem, tentar uma solução que atenda os interesses do Centro-Oeste – disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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