Tratamento de câncer deve começar ao se descobrir a doença, dizem debatedores

iara-farias-borges | 21/05/2013, 15h30

O prazo de até 60 dias após o diagnóstico de câncer para que o Sistema Único de Saúde (SUS) inicie o tratamento do paciente foi questionado pelos participantes da audiência pública realizada nesta terça-feira (21) na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Por um lado, quanto maior a espera para dar início ao tratamento, reduz-se a possibilidade de cura do paciente e, por outro, o SUS não está equipado para atender à demanda dentro do prazo estabelecido.

De acordo com a Lei 12.732 de 2012, que começa a vigorar nesta quarta-feira (22), lembrou a senadora Ana Amélia (PP-RS), a contagem do prazo para o início do tratamento de câncer no SUS começa no dia em que for firmado o diagnóstico com laudo patológico no sistema público de saúde. Ana Amélia requereu a audiência para debater o tema.

Estágio avançado

O prazo, na opinião da presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Maira Caleffi, deve começar a ser contado a partir da descoberta da doença. Os pacientes com sintomas, observou, levam de quatro a seis meses para conseguirem começar o tratamento no SUS. Segundo o Ministério da Saúde, ressaltou, 45% dos pacientes têm o primeiro atendimento quando a doença já está em estágio avançado (níveis 3 ou 4). Este percentual, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), frisou, chega a 52% dos pacientes.

- Apesar de termos pessoas com sintomas da doença, não estamos fazendo a nossa parte com o diagnóstico precoce – disse a presidente da Femama.

Ela ainda destacou que a norma brasileira é tão “perfeita” que pode servir de manual para outros países, mas não poderá aplicada efetivamente no Brasil, por falta de infraestrutura e qualificação dos profissionais. Ela disse que muitos prefeitos nem sabem da existência da lei, apesar de o governo federal afirmar que houve treinamento em todos os municípios.

- Só se o secretário de saúde do estado ou do município recebeu o treinamento e não repassou para os outros – disse Maira Caleffi.

O diagnóstico tardio também foi observado pelo defensor público da União, Ricardo Salviano. Ele reforçou que quanto mais cedo é diagnosticada a doença e iniciado o tratamento, maior a chance de cura e menores os gastos do Estado.

Corrupção

Na opinião do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), os problemas da saúde pública não são decorrentes apenas de gestão ineficiente, mas da corrupção que atinge o setor. Segundo a Controladoria Geral da União, sublinhou, nos últimos cinco anos, foram desviados somente da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) cerca de R$ 500 milhões. Na avaliação do parlamentar, que é médico, é preciso melhorar a gestão e combater a corrupção, além de aumentar o maior percentual de investimento na saúde pública por parte da União.

Deficiência logística

Apesar de ressaltar os avanços do SUS, o representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Jurandir Frutuoso, reconheceu que a efetivação total da lei vai demandar tempo. O sistema de saúde pública do país, destacou, ainda enfrenta problemas como o da concentração dos serviços e deficiência na logística. Como exemplo, ele citou a disparidade dos preços dos medicamentos adquiridos pela União se comparados aos comprados por estados e municípios.

No caso de remédios para tratamento de câncer, informou, a unidade de determiando medicamento foi comprada no ano passado pela União por cerca de R$ 3 mil, enquanto que algumas prefeituras do Nordeste adquiriram o remédio por mais de R$ 7 mil a unidade. Ele sugeriu que a centralização da compra de medicamentos para evitar que “estados e municípios fiquem nas mãos dos laboratórios”.

Em 2012, foram 518 mil internações de pacientes de câncer, com gasto de R$ 806 milhões, informou a coordenadora Geral de Atenção a Pessoas com Doenças Crônicas do Ministério da Saúde, Patrícia Sampaio Chueiri. Depois das doenças cardiovasculares, informou, o câncer é a segunda causa de morte dos brasileiros – com 179 mil mortes, em 2012. O câncer de mama é o que mais mata as mulheres, e o de próstata é o que mais afeta a população masculina, ressaltou.

Entre as ações do governo para reforçar o atendimento ao câncer, a coordenadora destacou a Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer; a própria regulamentação da “Lei dos 60 dias”; a implantação do Sistema de Informação do Câncer (Siscan), uma base de dados nacional que permitirá monitoramento do atendimento dos pacientes; o Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), que oferece isenção fiscal em ações de prevenção e combate ao câncer; e o Plano de Expansão da Radioterapia no SUS, que lançará edital para aquisição de 80 aceleradores lineares, aparelhos usados na radioterapia.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: