Laticínios criticam concentração de poder no setor das grandes redes varejistas

gorette-brandao | 04/04/2013, 17h35

A crescente concentração econômica no setor das grandes redes varejistas está impactando negativamente as indústrias processadoras de leite. Usando seu poder econômico, as redes de supermercado estão achatando cada vez mais as margens dos laticínios sobre o preço do produto, dificultando investimentos e mesmo sua sobrevivência.

O alerta foi feito por convidados de audiência realizada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), nesta quinta-feira (4), que se dedicou ao exame de problemas na cadeia produtiva do leite. O debate foi coordenado pelo presidente do colegiado, senador Benedito de Lira (PP-AL).

O primeiro a apontar o problema foi Gustavo Beduschi, que representou a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Segundo ele, em 2006 as processadoras detinham margem de 20% sobre o preço ao consumidor e o varejo ficava com 19%. Em 2012, a margem do varejo subiu para 33%, enquanto as processadoras viram sua fração cair para 11%.

Em reforço, o representante da CNA, Rodrigo Sant’Anna Alvim, lembrou que recentemente as super redes varejistas em atuação no país chegavam a seis. Agora, estão reduzidas a apenas três – Carrefour, Pão de Açúcar e Wallmart, que incorporou os grupos Bom Preço e Sonai.

Segundo ele, a indústria de processamento poderá ter problema para absorver aumentos de produção de leite na escala que está sendo pretendida pela CNA por causa de uma “indústria capenga” e sem crédito.

Para o presidente da comissão, senador Benedito de Lira (PP-AL), produzir leite no país se equipara a “tirar leite de pedra”, diante do conjunto de dificuldades do produtor no campo. Em sua avaliação, é necessária uma política de juros diferenciada e mais ação do Ministério da Agricultura, a seu ver uma pasta que hoje se encontra esvaziada.

Mais pragmatismo

José Carnielli, presidente da Associação Brasileira das Pequenas e Médias Cooperativas e Empresas de Laticínios, cobrou "mais pragmatismo” e união para a solução de gargalos que derrubam a produtividade. Citou exemplo de famílias capixabas que conseguem elevada produção em pequenas áreas. Chegou a criticar a permanente reclamação por mais preço para o leite.

- Mais preço para premiar a ineficiência? – questionou.

Também participou da audiência Elizabete Fernandes, da Embrapa, que apresentou dados abrangentes sobre a produção leiteira do país, que emprega mais de 4 mil trabalhadores. Segundo ela, um fato positivo é que o Brasil está avançando para um patamar de consumo per capita de leite equivalente ao dos países desenvolvidos, de 200 litros por ano.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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