Resposta do Brasil à crise mundial foi tema de debates na CRE

Marcos Magalhães | 27/12/2012, 12h55

A busca de alternativas para ajudar o Brasil a enfrentar os desafios da crise econômica mundial foi um dos principais temas de audiências públicas promovidas ao longo deste ano pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Especialistas em comércio exterior e relações internacionais ressaltaram a importância da integração regional, da busca de maior competitividade da economia brasileira e de novos acordos internacionais de comércio.

No final de fevereiro, participantes da primeira audiência pública do ano na comissão alertaram que, apesar das frequentes críticas feitas no Brasil ao processo de integração regional, deve-se ao Mercosul o maior superávit em produtos industriais registrado atualmente pelo país.

O comércio entre os países do Mercosul tem crescido "significativamente", segundo informou o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto. Ele ressaltou que o volume total superou em 2011 os US$ 100 bilhões.

- Praticamente 30% das exportações brasileiras de manufaturados destinam-se ao Mercosul. É o único espaço do mundo para onde nossas exportações [de manufaturados] ainda crescem. Com a Argentina, temos um saldo de US$ 6,7 bilhões em manufaturados. Do ponto de vista comercial, o Mercosul para o Brasil é quase imprescindível - afirmou Zanotto, para quem o Brasil deveria buscar um entendimento com a Argentina que envolva a participação de estaleiros daquele país na construção de plataformas para a Petrobras.

Em seguida, o presidente da Federação de Câmaras de Comércio da América do Sul, Darc Costa, disse que a integração da América do Sul tem "caráter estratégico" para o Brasil. Por sua vez, o embaixador José Botafogo Gonçalves, vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), afirmou que a América do Sul será o "grande desafio" da diplomacia brasileira no século 21.

- Vamos ter relações muito mais densas. Hoje estamos começando a ter relação diferente com países andinos, sobretudo pela possibilidade de ligações entre os oceanos Atlântico e Pacífico - previu Botafogo.

Crise do Euro

Em abril, as dificuldades econômicas da Europa, tradicional parceira comercial do Brasil, foram o principal tema de uma nova audiência. Desta vez, o sociólogo Demétrio Magnoli alertou que a crise do euro, que nasceu financeira, ameaçava tornar-se política. A manutenção do quadro de dificuldades econômicas, advertiu o sociólogo, poderia levar ao fortalecimento dos extremismos de direita e de esquerda no Velho Continente.

As politicas deflacionárias e recessivas adotadas por diversos países europeus em resposta à crise, recordou Magnoli, têm motivado grandes mudanças políticas na Europa. A Espanha, exemplificou, já vivia então um momento de “forte instabilidade” política pouco depois da eleição de um novo governo, de centro-direita.

A resposta do governo brasileiro à crise do euro, na opinião do sociólogo, havia se limitado à denúncia da existência de um “tsunami monetário”, que estaria sobrevalorizando as moedas de países em desenvolvimento a partir do excesso de liquidez internacional.

Ao adotar esse comportamento, observou Magnoli, o Brasil “age como avestruz”, por não enfrentar as “causas estruturais” de sua falta de competitividade. Imaginar que as principais moedas voltarão a ter o valor que tiveram, alertou, “é um sonho de uma noite de verão”.

Acordos

No final de abril, a comissão discutiu a importância de novos acordos internacionais de comércio. Thomaz Zanotto alertou que, enquanto diversos países buscavam celebrar acordos bilaterais de comércio, o Brasil e o Mercosul ainda se limitam a modestos instrumentos firmados com Israel, Egito e Autoridade Palestina.

- Com a paralisação das negociações da Rodada de Doha [da Organização Mundial de Comércio], o Brasil ficou sem acordos. Em termos comerciais, os acordos que temos significam pouco. Está havendo no resto do mundo agora uma corrida por acordos comerciais. Achamos fundamental a retomada de acordos com a União Europeia e os Estados Unidos. Juntos ainda são os principais mercados do mundo – afirmou Zanotto.

O pedido de Zanotto foi apoiado durante a audiência pelo ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia. Ele recordou que as negociações de acordos bilaterais levam à integração das cadeias produtivas dos países envolvidos. Em sua opinião, o Brasil não deve limitar-se a seu “imenso mercado interno”, mas buscar acordos que possam substituir os entendimentos ainda não viabilizados da OMC.

– Não temos a menor perspectiva de ter acordos desse gênero. É uma lacuna importante que só traz prejuízos ao futuro do país – disse Lampreia, lamentando ainda que o Mercosul tenha se tornado “claramente” refém do protecionismo argentino, o que impediria o bloco de firmar acordos internacionais.

Competitividade

Um mês depois, foi a vez de o presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, alertar para a  perda da competitividade da economia brasileira.

Ele assinalou que câmbio sobrevalorizado, altas taxas de juros, impostos e encargos trabalhistas elevados e infraestrutura inadequada inibem a competitividade.

Rubens Barbosa manifestou preocupação com o processo de desindustrialização do Brasil. O representante da Fiesp disse que a indústria representava 25% do Produto Interno Bruto (PIB) na década de 1980 e hoje responde por 14%.

Lembrou, ainda, que as exportações do Brasil são principalmente de produtos primários, como petróleo e soja, o que demonstraria a falta de competitividade das indústrias nacionais.

— Estamos perdendo mercado nas exportações. No mercado interno, a indústria está perdendo espaço para os produtos importados — lamentou Barbosa.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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