Para aeronautas, Gol comprou Webjet para eliminar concorrência

Iara Guimarães Altafin | 11/12/2012, 14h20

A compra da Webjet pela Gol teve como objetivo a eliminação de uma empresa que praticava preços menores, na avaliação de Graziella Baggio, diretora do Sindicato Nacional dos Aeronautas. O senador Cyro Miranda (PSDB-GO) concorda.

– Me parece mais um conchavo para alijar alguém do mercado – frisou o parlamentar, durante debate realizado nesta terça-feira (11) na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), sobre o impacto das fusões entre companhias aéreas.

Graziella Baggio disse ser “apenas um pretexto” o argumento de expansão usado pela Gol quando da compra, o que se confirmaria pelo fechamento da Webjet e a demissão de 850 de seus funcionários.

– Se a Webjet possuía dívidas, porque se adquiriu a empresa? Se não era viável, porque se comprou a empresa? Ou se comprou para fechar a concorrente? – questionou Baggio.

Para a senadora Ana Amélia (PP-RS), que presidiu a audiência pública, a eliminação de concorrência é “uma suspeita que fica no ar”. Ela apontou incoerência em argumento usado pelo representante da Gol, Alberto Fajerman, de que a Webjet foi fechada, entre outros motivos, para reduzir gastos com os aviões da companhia, que eram velhos.

– Se aviões velhos consomem mais e podem até representar riscos, qual o interesse na compra da empresa? – indagou Ana Amélia.

Na explicação de Fajerman, ao fazer a aquisição, a Gol pretendia renovar a frota da Webjet, o que posteriormente não se mostrou vantajoso.

Insegurança

As demissões no setor aéreo e a concentração de mercado, verificada também na fusão das empresas Trip e Azul, têm gerado grande insegurança entre aeronautas e aeroviários, conforme informou Graziella Baggio.

De acordo com a dirigente sindical, a demissão dos 850 funcionários da Webjet foi comunicada por e-mail, “tendo uma tripulação sido demitida em pleno voo”. Essa situação repercutiu entre trabalhadores de todas as companhias aéreas, assustados com o aumento de demissões, que devem chegar a seis mil, até o final do ano.

– O risco não é só para os trabalhadores do setor, pela incerteza do amanhã, mas, sobretudo, para os passageiros, frente à situação psicológica em que vivem tripulação, pilotos e copilotos – observou a senadora Ana Amélia, ao comentar a situação.

Para o representante do Ministério do Trabalho e Emprego, Eudes Silva Carneiro, não há justificativa para as demissões, uma vez que o Brasil tem superado os problemas decorrentes da crise na economia mundial.

Falta de estrutura

Questionados pelos senadores sobre a possibilidade de entrada de outras empresas aéreas no mercado brasileiro, Ricardo Ruiz, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), descartou a possibilidade no curto prazo, devido a problemas de infraestrutura nos aeroportos.

– Atualmente, estamos tencionando no limite a estrutura aeroportuária – disse o representante do Cade.

Promoções

No debate, Cyro Miranda criticou a estratégia das empresas aéreas de anunciar passagens com preços reduzidos, sendo que raramente o usuário consegue adquirir os bilhetes pelo valor anunciado.

– Preços mais baixos são chamarizes, mas só se destinam à venda de cinco ou seis assentos. Quando uma companhia faz uma promoção, deveria ser obrigada a informar o número de assentos disponíveis com a tarifa mais baixa – opinou o senador.

Na avaliação da representante da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Daniela Crema, os dez anos de liberdade tarifária no Brasil resultaram em maior flexibilidade de gestão para as empresas e redução das tarifas, permitindo a ampliação de usuários do transporte aéreo.

– Em 2011, 16% dos assentos foram comercializados a menos de R$ 100 e 65% dos assentos a valores abaixo de R$ 300 – afirmou a representante da Anac.

Para Cyro Miranda, falta fiscalização da agência, para evitar a queda na qualidade dos serviços oferecidos pelas companhias aéreas e o desrespeito para com os consumidores.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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