Historiador aborda futebol e arte para analisar modernidade no Brasil

Patrícia Oliveira | 25/10/2012, 09h40

A história do país sob a perspectiva do povo brasileiro que se expressa pela arte, pela música e até pelo futebol, um símbolo da identidade nacional. Assim o historiador Francisco Carlos Teixeira desenvolveu o tema da sua palestra “Brasil, tempo presente”, no segundo ciclo de debates do Fórum Senado Brasil 2012, no auditório do Interlegis, nesta quarta-feira (24).

Especialista em História Social do Brasil, com doutorado e pós-doutorado na Alemanha, o professor carioca partiu da afirmação que ecoou na mente de milhares de pessoas, de que este era “o país do futuro”, para abordar o momento histórico que marcou a nossa entrada no cenário mundial e na modernidade.

A Semana de Arte Moderna, de 1922, com personagens como Tarsila do Amaral (1866-1973) e o Movimento Antropofágico até a produção de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), constituíram o que Francisco Carlos Teixeira denominou de “redescobrimento do Brasil”, pois era uma visão transformadora.

– O que esse primeiro modernismo nos deu, sem dúvida nenhuma, foi a capacidade de ver o país por lentes brasileiras - ressaltou.

Duas décadas depois, o povo passava a ser ator da cena política no Brasil. A população aumentava e começavam os movimentos migratórios campo-cidade. São Paulo recebia milhares de nordestinos que formariam “o moderno proletariado brasileiro”.  Para o historiador, era “o começo de uma sociedade de massas, urbana, industrial e moderna”, que rompia com seus próprios conceitos ultrapassados.

Os “dourados” anos 50 trouxeram o avanço da energia elétrica e do aço para movimentar o país em constante progresso. Bens como a geladeira e o automóvel se tornam o sonho de consumo de muitos brasileiros. Não era mais um país agrário, “mas era essencialmente pobre”, assolado por sucessivas crises e instabilidade política, lembra o palestrante. Junto com o desenvolvimento acentuou-se a injustiça social manifestada na tensão entre a estética e o cotidiano, no diálogo da arte com a realidade.

Futebol e arte

“A arte não é necessariamente sublime”, era o recado passado aos que deixaram para trás o romantismo nostálgico dos anos dourados, com seus desfiles de misses e a high society. A sociedade consumista e “feliz” dava lugar à outra, com valores e projetos políticos diferentes.

Como responsável por essa transição, o professor apontou o Manifesto Neoconcreto com figuras como Lygia Clark (1920-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980) com suas obras que ultrapassavam as telas para ganhar novos espaços e interagir com o público, além de Ferreira Gullar e sua poesia concreta.

No cinema, o Brasil rural, caipira e atrasado de Mazzaropi (1912-1981) “negava” o conflito de classes com finais felizes, enquanto Lima Barreto (1906-1982) com o seu “O Cangaceiro” pregava a revolta, o confronto aberto, para a resolução das injustiças sociais, como comparou o conferencista.  Até que o lançamento de “Orfeu do Carnaval” em 1959, com um protagonista negro, gerou uma mudança de paradigma no país nas questões raciais.

E se a Bossa Nova despontava como criação da “linguagem musical do Brasil” que conquistou o mundo, a obra de Nelson Rodrigues representava a família brasileira, os moradores do subúrbio, o sexo e o futebol.

– Se nós não pensarmos o futebol, jamais entenderemos o Brasil. Times [cariocas] como o Fluminense, Flamengo, Vasco da Gama, Botafogo, Bangu ou América são anteriores a qualquer partido político hoje em vigor no Brasil – afirmou o historiador, acrescentado que é “mais fácil [o brasileiro] mudar de partido de uma eleição para outra do que mudar de time de futebol”.

Brasília

A ideia de modernidade se consolida na construção de Brasília que congregava o que havia de mais desenvolvido no país em 1960. A nova capital federal que integrava o centro-oeste às demais regiões do país representava uma “meta-síntese”. Nas palavras do professor, é quando o conceito de sociedade brasileira “se nacionaliza e se populariza”.

Nessa época, a Revolução Cubana sacudiu a América Latina, e o Brasil sentia os impactos. O país pensava em reformas. Segundo o professor, o povo começava a fortalecer seu papel histórico e político, superando as elites tradicionais. A despeito da censura militar, o teatro, a música e o Cinema Novo seriam expressões das mudanças desejadas ou já em curso. Enfim, em 1969, viria o que o historiador chama de “uma grande ruptura”.

– Eu diria que aqui, [os anos] 58-59 e 68-69 são esse segundo momento que marca a grande modernidade brasileira – concluiu Francisco Carlos Teixeira.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: