Governadores do DF e de Goiás são convocados para depor na CPI do Cachoeira

Anderson Vieira | 30/05/2012, 16h40

Os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), serão obrigados a depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga as relações criminosas de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Depois de acirrados debates entre os integrantes da CPI, a convocação de ambos foi aprovada na tarde desta quarta-feira (30). O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), ficou de fora, por 17 votos a 11.

Parte dos parlamentares queria uma votação em bloco para definir a situação dos governadores de maneira conjunta, mas a maioria decidiu analisar os pedidos separadamente, impasse que gerou longas discussões. O relator, deputado Odair Cunha (PT-MG) chegou a propor novo adiamento da decisão, mas não teve a sugestão acolhida.  Assim, a ida de Perillo à CPI foi aprovada de maneira unânime. Já em relação a Agnelo, 16 parlamentares foram a favor e 12 se manifestaram contra. Cabral se viu livre de prestar esclarecimentos à comissão com a anuência de 17 votos.

Os que votaram pela exclusão do governador do Rio alegaram que ainda há poucos indícios do envolvimento dele com Carlinhos Cachoeira. Nessa visão, seria necessário analisar os dados sigilosos da construtora Delta em posse da CPI para então verificar se há ligação entre Cabral e o chefe de um esquema de jogos ilegais, corrupção e tráfico de influência que tinha a Delta como um de seus pilares.

– Nós vamos votar a vinda do governador Cabral só porque ele aparece com um lenço na cabeça? – ironizou o senador Humberto Costa (PT-PE), referindo-se às fotografias e vídeos em que Cabral aparece com seu secretariado, numa comemoração em Paris, na França, ao lado de seu amigo Fernando Cavendish, ex-dono da Delta.

Sigilo telefônico

O primeiro requerimento posto em análise, para quebra de sigilo telefônico do governador Marconi Perillo (PSDB), causou polêmica, mal foi anunciado pelo vice-presidente, deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Senadores e deputados pediram a palavra imediatamente para protestar ou reivindicar procedimento idêntico em relação aos governadores do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.

– Não há como admitir a adoção de dois pesos e duas medidas para casos semelhantes. Temos que votar os pedidos referentes a outros governadores também – afirmou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), do mesmo partido de Marconi Perillo.

O relator Odair Cunha (PT-MG), por sua vez, lembrou que há 237 referências ao governador Perillo nas gravações feitas pela Polícia Federal, o que justificaria a necessidade de se ter acesso aos dados telefônicos do governador goiano.

– Há indícios contundentes que apontam para o envolvimento de Perillo. Não descarto quebra [de sigilo] de outros governadores, mas não é o caso no momento – afirmou Odair.

Já o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SO) saiu em defesa da privacidade dos dados dos três governadores. Para eles, não há no momento “pertinência e fundamentação jurídica” para o pedido.

– Isso é medida de exceção se não houver outro meio de prova. Se há indícios, devemos apurar e ouvir. Peço a reflexão de todos. Não tem sentido esta providência, neste momento – afirmou Sampaio.

Diante da controvérsia, o requerimento foi sobrestado (adiado) juntamente com pedidos idênticos referentes deputados Sandes Júnior (PP-GO), Stepan Nercessian (PPS-RJ) e Carlos Alberto Leréía Silva (PSDB-GO).

Acusações

Os três governadores são acusados de terem proximidade ou envolvimento com Carlinhos Cachoeira ou integrantes de sua rede criminosa. Após a divulgação de imagens, no mês passado, de uma viagem a Paris, Sérgio Cabral reconheceu ser amigo de Fernando Cavendish, dono da Delta, empresa acusada de participação no esquema do bicheiro, e que segundo a imprensa tem contratos de cerca de R$ 1,4 bilhão com o estado do Rio de Janeiro. Contra Marconi Perillo pesam acusações de que ele permitiria a influência de Cachoeira na nomeação de funcionários para a administração estadual. Já no caso do governo do DF, há denúncias  de que Cachoeira era favorecido em licitações de contratos de limpeza urbana.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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