Congresso brasileiro faz apelo por paz entre Israel e povo palestino

Isabela Vilar | 12/04/2012, 19h40

O Congresso Nacional deverá apresentar uma moção pela paz entre israelenses e palestinos, por meio das comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e do Senado. O documento foi lido nesta quinta-feira durante audiência pública realizada no Senado para ouvir o ex-Ministro da Justiça de Israel, Yossi Beilin e o secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina, Yasser Abbed Rabbo.

Os dois dirigentes fizeram parte das negociações do Acordo de Genebra, plano de paz alternativo para o Oriente Médio, lançado em 2003 na Suíça, após mais de dois anos de discussão. O acordo foi rejeitado pelo governo israelense por ter sido negociado por políticos da oposição, e a Autoridade Nacional Palestina, apesar de apoiar a iniciativa, não a endossou formalmente.

- É o documento mais consistente, a proposta mais completa para uma paz justa e duradoura entre Israel e os palestinos. O acordo de Genebra continua sendo, até hoje, a referência de todos aqueles que acreditam que é possível a paz com fórmula de dois estados – afirmou o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), que propôs a moção.

O documento, que recebeu o nome de Apelo de Brasília, foi aprovado politicamente, mas ainda deve ser votado pelas comissões antes de ser divulgado a outros países. No texto, os colegiados demonstram preocupação com a estagnação do processo de paz, declaram apoio às soluções propostas em Genebra e fazem um apelo ao governo de Israel e às forças políticas palestinas com sugestões para o processo de paz.

De acordo com o texto, o governo de Israel deve cessar a expansão de assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, além de desmantelar ocupações ilegais. Dos palestinos, é esperada a resistência à ocupação restrita a formas não violentas. E os dois lados devem reabrir as negociações para uma solução definitiva.

- Não há outra saída para aquela região, a não ser um entendimento entre Israel e o povo palestino. A alternativa de destruir Israel não faz o menor sentido e a hipótese de ignorar o povo palestino também não. O que faz sentido é o que vocês estão fazendo – afirmou o vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Cristovam Buarque (PDT-DF).

Assentamentos

Para o representante palestino no evento, o processo de paz é possível, mas uma negociação justa passa, necessariamente, pelo fim dos assentamentos israelenses nos territórios de conflito. O aumento no número de assentamentos, para ele, tornará cada vez mais difícil uma solução.

- É como duas pessoas tentando decidir como uma pizza será dividida e um lado diz que quer negociar, mas come a pizza ao mesmo tempo. Antes do fim das negociações, não haverá mais pizza para dividir – afirmou Yasser Abbed Rabbo.

O ex-ministro israelense concordou que os problemas da região podem ser solucionados e afirmou que o mundo já sabe o caminho para a paz, apontado pelo Acordo de Genebra. Para ele, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu pode até dizer que quer a paz, mas não está disposto a pagar o preço que ela exige. Já do lado palestino, há líderes prontos para a paz, mas que têm dificuldade de falar por Gaza, região comandada pelo Hamas, que se opõe à Autoridade Palestina.

- Do lado palestino, existe uma dificuldade em conseguir fazer a paz e, do lado de Israel existe uma dificuldade de disposição, de vontade para fazer a paz – afirmou Beilin, que considera bem-vinda a adoção de soluções não-permanentes, como a aceitação, pelos palestinos, de fronteiras provisórias para evitar conflitos na região.

Primavera Árabe

Yasser Abbed Rabbo afirmou que, durante muito tempo, os regimes ditatoriais no mundo árabe usaram a luta contra Israel para abafar qualquer tentativa de mudança interna. Segundo ele, com toda a tecnologia disponível, os ditadores não podem exercer o poder como antigamente. As mudanças na região exigirão de Israel uma nova maneira de olhar para o povo árabe.

- O mundo árabe está mudando e cabe a Israel compreender isso. Israel sempre se considerou um oásis da democracia no pobre Oriente Médio. Agora, o deserto do Oriente Médio está florescendo e as pessoas estão lutando pela democracia.

Para ele, Israel passará a lidar com governos que serão cobrados se explorarem seus cidadãos, e terá der se acostumar, também, a ser cobrados pelo reconhecimento dos direitos do povo palestino.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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