Durante 20 anos, Ulysses Guimarães empenhou-se na luta pela volta da democracia

Da Redação | 01/10/2008, 16h24

Ao longo de quase duas décadas, ele empunhou com uma coragem que contagiava o país o estandarte da democracia. "Eu tenho ódio e nojo à ditadura", bradou em seu famoso discurso na Assembléia Nacional Constituinte o paulista Ulysses Guimarães, liderança máxima do Movimento Democrático Brasileiro, que assumiu, em 1987, o papel de presidente do colegiado responsável por estabelecer os novos fundamentos legais do país.

Tão fundamental foi sua participação na vida política brasileira e, em especial, na redação da nova Carta Magna, que o "Doutor Ulysses" e a Constituição que ele batizou de "cidadã" se tornaram gêmeos siameses, associados aos ideais de liberdade, justiça e avanços sociais que a Nação brasileira acalentou durante os anos de repressão e mordaça.

Político com larguíssima experiência, Ulysses já havia sido presidente da Câmara dos Deputados ainda no governo de Juscelino Kubitschek (1956-57), antes de ocupar o cargo justamente nos anos que trouxeram de volta a democracia (1985-88). Já conquistara, na década anterior, o status de estrela de primeira grandeza da política nacional com sua anticandidatura à Presidência da República, em 1973, destinada, como dizia, a "expor a vergonha do Colégio Eleitoral" que escolheu o general Ernesto Geisel para governar o Brasil.

Derrotada a ditadura, Ulysses dedicou-se a defender a convocação da Constituinte. "O Brasil precisa de uma Constituição em que o povo seja o fundador, por votação direta, do governo e da lei", ensinava o mestre, que foi aluno da centenária Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, além de professor. Três anos antes da promulgação da Carta Magna, profetizava:

- Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados.

Seus aliados próximos são incapazes de eleger sua mais excepcional virtude.

- Serenidade, sem apatia. Prudência, mas despida de qualquer sombra de fraqueza ou hesitação. Intransigência quanto a princípios. Honestidade. Sinceridade. Coragem, que, entretanto, jamais se confundia com temeridade. Tais virtudes se tornaram o ponto de referência que impediu o naufrágio, durante a longa e perigosa travessia do autoritarismo, na campanha empolgante pelas eleições "Diretas Já" e nos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte - escreveu o deputado gaúcho Ibsen Pinheiro, colega de PMDB e que o sucedeu na Presidência da Câmara.

O hoje senador Heráclito Fortes (DEM-PI), então um deputado federal constituinte de 38 anos, destaca que Ulysses foi visionário no comando dos trabalhos.

- Ele se socorreu do instrumento da revisão constitucional, prevista para dali a cinco anos, com o objetivo de fazer os ajustes num modelo de Constituição que ainda contemplava uma economia fechada - comentou.

A imagem histórica de Ulysses erguendo, acima da cabeça, o livro com o novo texto constitucional serviu de corolário da trajetória que nem o melancólico sétimo lugar na campanha presidencial de 1989 conseguiu macular. Mas Ibsen Pinheiro acha que, acima de tudo - mesmo da forma como conduziu a Assembléia Constituinte -, Doutor Ulysses (1961-1992) deixou como legado ao país o seu exemplo.

- A sua vitória mais importante, entretanto, foi ter estabelecido, para sempre entre nós, o paradigma da verdadeira cidadania. Essa conquista como que resume e arremata todo o esforço de sua vida. Foi a inspiração que iluminou seus passos, o objetivo que norteou suas lutas, o fio comum que encadeia e dá sentido aos episódios de sua carreira - sintetizou o deputado.

Sylvio Guedes / Jornal do Senado

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: