Documento aponta tráfico de influência entre ex-assessores de Palocci e empresários

Da Redação | 08/06/2006, 20h28

O relatório final da CPI dos Bingos, apresentado nesta quinta-feira (8), aponta diversos indícios de prática de tráfico de influência envolvendo ex-assessores do ex-ministro da Fazenda e ex-prefeito de Ribeirão Preto (SP) Antonio Palocci, e empresários, em operações ligadas a fundos de pensão, empréstimos para prefeituras e concessão de recursos a instituições financeiras.

O documento, elaborado pelo senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), diz que o chamado "grupo de Ribeirão Preto", composto por personagens como Rogério Buratti, Vladimir Poleto e Ralf Barquete, todos colaboradores de Palocci na prefeitura, teria se engajado "em iniciativas que buscavam tirar proveito da posição ocupada pelo ministro no governo". Haveria, inclusive, "indícios consistentes" de que o próprio Palocci teria participado dos processos.

A CPI aponta, por exemplo, operação com o Serpros, fundo de pensão dos funcionários do Serviço de Processamento de Dados do Governo Federal (Serpro). Conversas telefônicas entre Poleto e Buratti, gravadas entre maio e setembro de 2004, com autorização judicial, mencionam "negócios com certificados de recebíveis imobiliários" com a instituição. O diretor-superintendente do Serpro, Donizete Rosa, foi secretário de governo de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto. O ex-chefe de gabinete do ex-ministro Juscelino Dourado fez parte do conselho diretor do fundo.

O relator também considera suspeita a relação com a empresa mineira MC Consulting, de propriedade do engenheiro Rodrigo Cavallieri Resende, que, suspeita-se, teria Buratti como "sócio oculto". A especialidade da MC Consulting é assessorar municípios, construtoras e órgãos públicos interessados em obter financiamentos junto a instituições multilaterais de crédito, especialmente para obras de saneamento básico.

Para tais projetos serem aprovados, eles devem passar pela Comissão de Financiamento Externo (Cofiex), da qual participam três representantes do Ministério da Fazenda. Buratti admitiu ao Ministério Público que "acelerava" a liberação dos empréstimos.

Chama a atenção ainda o possível vínculo entre o "grupo de Ribeirão", o Banco Prosper e o governo federal. A instituição financeira, segundo o relatório, teria "financiado" Ribeirão Preto. Mais tarde, em 2004, o banco contratou Barquete e Poleto como consultores. Por outro lado, de 2001 a 2004, houve um aumento de 1.043% dos repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Prosper.

O próprio Palocci chegou a se encontrar mais de uma vez com o presidente do Prosper, Edson Menezes. O primeiro encontro aconteceu em outubro de 2004. O ex-ministro alegou que se tratou de compromisso oficial, mas o encontro não foi divulgado à imprensa.

Por fim, Garibaldi cita as ligações telefônicas entre Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor direto de Palocci na Fazenda, e Vladimir Poleto, para explicitara proximidade entre "grupo de Ribeirão" e o governo - de 26 de março de 2003 a 30 de agosto de 2005, eles trocaram 1.434 chamadas.

As denúncias da prática de tráfico de influência dos assessores do ex-ministro em Ribeirão Preto durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva foram detalhadas nos depoimentos do caseiro Francenildo dos Santos Costa e do motorista Francisco das Chagas Costa, que conviveram com essas pessoas. Francenildo trabalhava na chamada "casa do lobby" - mansão no Lago Sul, em Brasília, que teria sido freqüentada por Buratti, Poleto, Barquete, por empresários com quem eram supostamente tramadas as "negociatas" e pelo próprio Palocci, que, segundo as testemunhas, era tratado pelos demais de "chefe". O episódio da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo provocou a queda do então ministro da Fazenda.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)