Relatório refuta empréstimos e aponta tráfico de influência

Da Redação | 29/03/2006, 17h57

O relatório final da CPI dos Correios, elaborado pelo deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR),refuta a tese dos empréstimos de R$ 55 milhões ao PT, feitos nos bancos Rural e BMG, sustentada pelo então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Serraglio afirma que Valério atuou como "prestador de serviços a Delúbio" num "conluio" em que os dois "desenvolveram um esquema de corrupção do sistema político que ganhou proporções milionárias em função da proximidade com o poder". Ou seja, tráfico de influência.

A verdadeira origem dos recursos, diz Serraglio, provinha de cofres públicos, como o Fundo de Recursos da Visanet, gerido pelo Banco do Brasil, ou de fontes privadas, como a Brasil Telecom ou a Usiminas. A Visanet, por facilitação do ex-diretor de Marketing do banco Henrique Pizzolato, adiantou recursos de R$ 53,8 milhões às agências de publicidade de Valério sem ter os serviços prestados na íntegra. A Usiminas, só entre agosto e setembro de 2004, fez pagamentos de R$ 3,4 milhões à SMP&B; sem ter a comprovação do serviço prestado. Entre janeiro de 1997 e agosto de 2005 houve uma movimentação de cerca de R$ 2 bilhões nas contas do chamado grupo econômico Marcos Valério.

Segundo o relatório, Valério fazia repasses aos beneficiários com dinheiro tirado diretamente das contas-correntes das suas agências, sustentada por supostos empréstimos e repasses de empresas públicas e privadas, e por meio de intermediários, como as empresas Guaranhuns e Bônus-Banval. A Guaranhuns recebeu pela SMP&B;, entre fevereiro e agosto de 2003, R$ 6,03 milhões. Desse montante, R$ 3,2 milhões foram entregues em cheques endossados a terceiros e em seguida destinados a Valdemar da Costa Neto, ex-deputado do PL que renunciou. Outros R$ 2,8 milhões foram depositados diretamente na conta da Guaranhuns.

Serraglio acusou ainda o Banco Central de ter "conduta imprudente" e "deficiente" na fiscalização das operações de falsos empréstimos de Marcos Valério e sugere o estudo de uma forma mais eficiente de fiscalização, com aprimoramento de normas de controle. Já os bancos BMG e Rural são acusados de buscarem outros benefícios na aproximação com o governo federal e, por isso, se sujeitaram a participar do esquema, "o que se traduz com um exemplo do que se denomina tráfico de influência".

O relator Osmar Serraglio sugere 24 indiciamentos entre os envolvidos com o chamado "valerioduto". Alguns dos personagens mais conhecidos:

Marcos Valério - falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, corrupção ativa, supressão de documento, fraude processual, crimes contra a ordem tributária, peculato e atos de improbidade administrativa;

Delúbio Soares - falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, crime eleitoral, peculato;

José Genoíno - falsidade ideológica, corrupção ativa, crime eleitoral;

José Dirceu de Oliveira - corrupção ativa;

Rogério Lanza Tolentino (sócio de Valério) - falsidade ideológica, lavagem de dinheiro;

 Simone Vasconcelos (funcionária da SMP&B;) - lavagem de dinheiro, corrupção ativa;

Cristiano Paz (sócio de Valério) - lavagem de dinheiro, corrupção ativa;

Marco Aurélio Prata (contador de Valério) - supressão de documento, fraude processual, crimes contra a ordem tributária.

Marco Túlio Prata (irmão do contador) - supressão de documento, fraude processual, crimes contra a ordem tributária;

Luiz Gushiken - tráfico de influência, corrupção ativa;

Henrique Pizzolato - falsidade ideológica, lavagem de dinheiro;

Cássio Casseb (ex-presidente do BB) - condescendência criminosa;

Kátia Rabelo (proprietária do Rural) - fraude na administração de sociedade por ações, corrupção ativa, lavagem de dinheiro;

Ricardo Guimarães (proprietário do BMG) - fraude na administração de sociedade por ações, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)