CPI APURA IRREGULARIDADES NO FUTEBOL BRASILEIRO

Da Redação | 15/12/2000, 00h00

A CPI do Futebol dará continuidade à apuração de irregularidades que vem ocorrendo nesse esporte, a partir da retomada de suas atividades no próximo ano, garantiu o presidente da comissão, senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "O Senado deve dar uma resposta competente, à altura das aspirações da sociedade, indignada com a sucessão de denúncias e escândalos envolvendo clubes, empresários, técnicos e jogadores de futebol, disse o senador.

Autor do requerimento para criação da CPI do Futebol, Álvaro Dias resumiu a expectativa gerada pela comissão. Além disso, sustentou o senador, a Casa não pode se omitir de investigar as irregularidades que vêm sendo divulgadas pela imprensa em relação ao esporte que mais apaixona o povo brasileiro e é fonte de oportunidades de trabalho e salário para número expressivo de pessoas.

As suspeitas de irregularidades cambiais nas negociações de jogadores para o exterior e de sonegação de contribuições à Previdência Social pelos clubes foram os primeiros pontos a serem investigados pela comissão este ano. Os senadores ouviram o ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, que apresentou a relação dos maiores devedores. Os débitos chegam a R$ 218 milhões.

A CPI recebeu documentos enviados pela Procuradoria da República em Porto Alegre contendo indícios de movimentação por clubes brasileiros de contas bancárias no exterior sem escrituração contábil. As informações apontaram para a prática de crimes contra a ordem tributária e contra o Sistema Financeiro Nacional. Os documentos estão relacionados à venda a clubes estrangeiros dos jogadores Christian e Gamarra, pelo Internacional, e Paulo Nunes e Jardel, pelo Grêmio.

As negociações totalizam cerca de US$ 8 milhões. Os recursos de ambas as operações teriam sido depositados em bancos no exterior, e há suspeitas de que podem estar entrando no país sem o conhecimento das autoridades monetárias. Segundo o senador, a contabilidade dos clubes registra a entrada de recursos em espécie e em valores compatíveis com as operações.

O depoimento do chefe do Departamento de Ilícitos Cambiais e Financeiros do Banco Central, Ricardo Liao, trouxe à CPI do Futebol informações dos processos contra 22 clubes do futebol brasileiro, envolvendo um total de US$ 42,5 milhões, referentes a supostas irregularidades em operações cambiais na compra e venda de jogadores realizadas antes da aprovação da Lei Pelé, em 1998.

Liao disse que os casos envolvem operações de câmbio ilegítimas na compra e venda de atletas, o pagamento da compra de atletas brasileiros por meio do envio de jogadores estrangeiros e o recebimento em reais do valor da negociação de atleta com o exterior, sem comprovar a origem da operação de câmbio da moeda estrangeira para a brasileira.

Também compareceu à comissão a procuradora Adrianne Senna, presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda. Ela levantou a suspeita de que a venda de jogadores de futebol com preços superfaturados e as grandes somas destinadas a patrocínios de clubes ou eventos esportivos encubram casos de lavagem de dinheiro ilícito.

As denúncias da estudante de direito Renata Alves de que o ex-treinador da Seleção Brasileira, Wanderley Luxemburgo, teria montado e operado uma rede de negócios envolvendo o recebimento de comissões pela escalação de jogadores, uso de imagem, compra e venda de veículos e transferência de dólares ao exterior provocaram a convocação do técnico. Em um depoimento evasivo, Luxemburgo não conseguiu explicar a origem dos R$ 18 milhões de diferença entre os seus rendimentos declarados à Receita Federal e sua movimentação bancária.

O treinador, que havia admitido em programa de televisão ter recebido pressão para convocar jogadores à seleção, não informou o nome autor do pedido. Além disso, disse desconhecer a existência de contas em seu nome e no de sua mulher em bancos no exterior. Diante da recusa em responder às questões dos senadores, Luxemburgo chegou a ser advertido por Álvaro Dias sobre o risco de ouvir a voz de prisão durante o depoimento.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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