Homenagem ao HUB por pesquisa da CoronaVac é marcada por defesa da ciência

Da Agência Senado | 26/04/2021, 20h26

A equipe do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital Universitário de Brasília (HUB), responsável pelos testes da vacina CoronaVac no Distrito Federal, recebeu homenagem do Senado em sessão remota especial nesta segunda-feira (26).

O HUB, vinculado à Universidade de Brasília (UnB), é um dos 16 centros de pesquisa da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech em iniciativa coordenada pelo Instituto Butantan. Os testes com a vacina, iniciados em agosto de 2020, envolveram a participação de 946 voluntários, confirme lembrou o autor do requerimento de audiência, senador Izalci Lucas (PSDB-DF). Para ele, o processo é um marco na contribuição do HUB para o enfrentamento e o progresso da ciência.

— Fome, guerras, agressões ao ambiente e pestes podem ser entendidas como acontecimentos que tentam nos levar à extinção, mas, felizmente, nós ainda estamos aqui! Para superarmos esses acontecimentos, precisamos seguir os ditames da ciência — afirmou, ao rejeitar "soluções mágicas" sem respaldo científico.

A reitora da UnB, Márcia Abrahão, enalteceu o resultado dos testes com o imunizante, lembrando que mais de 80% das vacinas aplicadas no Brasil são da CoronaVac, e defendeu apoio ao programa de pesquisas da universidade.

Temos mais de 200 projetos de pesquisa em várias áreas, metade com financiamento. E nossos professores, técnicos e estudantes também estão atuando internamente para dar condições para que a universidade continue funcionamento nesse momento de pandemia.

Márcia Abrahão aplaudiu a derrubada, pelo Congresso, do veto presidencial à Lei Complementar 177/2021, que preserva o financiamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Ela disse esperar outras medidas para recomposição do orçamento para pesquisa e para as universidades federais.

Doutora em biologia, Dayde Lane Mendonça da Silva, gerente de ensino e pesquisa do HUB, defendeu o papel do Sistema Único de Saúde (SUS) e do conhecimento científico para a superação de crises como a da covid-19. Ela sublinhou que os estudos da CoronaVac aprimoraram os processos de trabalho do centro de pesquisas.

— Como um hospital universitário, faz parte da nossa vocação contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico na área de saúde, e, nesse contexto, cabe também a função de formar pesquisadores e profissionais para o desenvolvimento de pesquisas de qualidade — declarou.

Representando o Instituto Butantan, Ricardo Palacios Gomez, diretor médico de pesquisa clínica, comemorou a distribuição de mais de 240 milhões de doses da vacina da Sinovac em países de renda média e baixa.

— Ninguém ousaria cortar o orçamento dos bombeiros, porque sabe que, se acontecer uma emergência, precisa dos bombeiros para lhe socorrer. Não seria aceitável por parte da sociedade cortar o orçamento dos bombeiros. Dessa mesma forma, a gente tem que entender que a ciência é quem vai socorrer a nação, é quem vai socorrer o mundo em todas essas emergências.

Gustavo Adolfo Sierra Romero, diretor da Faculdade de Medicina da UnB e coordenador do estudo da CoronaVac no DF, acrescentou que o sistema de ciência, tecnologia e inovaçao tem sido “golpeado” por cortes orçamentários nos últimos anos. Ele espera contar com a sensibilidade do Senado para que as universidades estejam preparadas para responder a novas tragédias em tempo oportuno e manter o papel de destaque do Brasil no combate a doenças infecciosas.

— Nós não sabemos exatamente quando vai acontecer, mas vai acontecer uma nova pandemia — previu.

Oswaldo de Jesus Ferreira, presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), responsável pela administração do HUB e de outros hospitais, elogiou a qualidade da equipe de pesquisa, que desempenha uma função prioritária apesar dos cortes orçamentários.

— É fundamental. O mundo mudou ao longo do tempo, baseado nos pesquisadores. É só ver a história da humanidade que nós vamos ver aonde é que nós vamos chegar, em todas as artes — resumiu, salientando que “limitações, há, mas nós temos lutado para superá-las”.

A enfermeira Isabela Roberta Chaves Nunes, coordenadora de estudos no HUB, também saudou a competência da equipe de estudos, que cumpriu uma meta ousada num tempo reduzido.

— Os grandes avanços de uma sociedade e os marcos históricos da ciência acontecem pelas mãos de pessoas que acreditam na força do seu trabalho, de pessoas que persistem e resistem aos desafios, em prol de um bem comum.

O senador Paulo Paim (PT-RS) criticou os lucros das empresas farmacêuticas com as vacinas e defendeu o projeto (PL 2.564/2020) que eleva o piso salarial dos enfermeiros e técnicos de enfermagem.

Nós temos que valorizar esses profissionais. Só chamar de herói, como eles dizem, não resolve. Temos que discutir também a discriminação no mundo do trabalho. Cerca de 85% dos profissionais de enfermagem registrados no Brasil são mulheres e deveriam ser mais valorizados.

Izalci Lucas concluiu defendendo a ampliação de recursos orçamentários para a pesquisa farmacêutica no Brasil, de modo a reduzir a dependência de vacinas e insumos importados. Ele comparou a situação do enfrentamento à covid com o investimento em pesquisas na Embrapa, que deu grande retorno por meio da balança comercial favorável no agronegócio.

A gente precisa rever a questão de prioridade. Governar é eleger prioridades, e ciência, tecnologia, inovação, tem que ser prioridade. Nós só vamos conseguir sair dessa crise e nos tornar um país realmente de primeiro mundo com grande investimento em ciência, tecnologia, inovação e pesquisa — sublinhou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)