Romário vai refazer requerimentos para investigar contratos da CBF

Sergio Vieira | 03/09/2015, 14h35

Em entrevista coletiva concedida após a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Futebol, o senador Romário (PSB-RJ), presidente da comissão, anunciou que deverá refazer os pedidos de acesso aos contratos feitos pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) relacionados à negociação dos jogos da Seleção.

Esses requerimentos também tratam de contratos de outra natureza, com patrocinadores, e deverão especificar cada empresa e o período de vigência. O objetivo é se contrapor a uma liminar obtida pela CBF no Supremo Tribunal Federal (STF), que a desobriga de enviar os documentos à CPI.

— É mais um sinal de que eles têm o que esconder — disse o senador.

A CPI ouviu nesta quinta-feira (3) o jornalista escocês Andrew Jennings, da BBC. Ele é o autor dos livros que serviram de base para que o FBI (a polícia federal dos EUA) realizasse investigações sobre crimes relacionados ao futebol. As investigações levaram à prisão de diversos dirigentes do esporte em nível mundial, entre eles, o ex-presidente da CBF, Jose Maria Marin.

Jennings colabora com o FBI desde 2009. Ele afirmou que esses contratos podem ser a chave para desnudar um grande esquema de corrupção.

— Porque a seleção quase nunca joga em seu próprio país? É preciso saber o que está por trás desses contratos.

Para o jornalista, a Polícia Federal e o Ministério Público deveriam investigar mais o futebol brasileiro, o que, no seu entendimento, traria benefícios para a sociedade. Na entrevista coletiva, disse também "não entender" por que essas instituições não colaboram com o FBI e a polícia suíça.

— Vocês têm tudo pra fazer isso, dar um banho de investigação. Têm um corpo técnico de excelência, especialistas em transações financeiras e lavagem de dinheiro. São até melhores que o FBI.

E ainda brincou, referindo-se à derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014:

— Se vocês fizerem isso, nunca mais perdem de 7 a 1.

Falência

Em seu depoimento à CPI, Jennings disse acreditar que as multas a serem aplicadas à entidade máxima do futebol mundial, fruto das investigações do FBI, poderão levar a entidade à falência.

Ele garante que o esforço empreendido pelos EUA e a Suíça nesse caso "ainda não chegou à metade, e mais gente vai ser presa".

— Neste momento, os investigadores estão na Inglaterra, na própria Suíça e na Ásia, onde os casos de corrupção são inúmeros.

Segundo o jornalista, o esquema criminoso que hoje rege o futebol mundial nasceu no Brasil, a partir do modus operandi aplicado por João Havelange às entidades locais antes de se eleger presidente da Fifa em 1974.

— Começou na década de 70, quando Havelange se elegeu pela primeira vez. Joseph Blatter [o atual presidente] foi seu principal assessor e deu continuidade ao esquema.

Também em seu depoimento, o jornalista sugeriu que Blatter tem ligações com a máfia russa e recomendou aos assessores da CBF que acompanharam seu depoimento pessoalmente na comissão.

— Fiquem até o fim, voltem para o Rio, fechem aquela entidade e a reabram redemocratizada para a sociedade brasileira.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)