Debate mostra potencial das florestas comerciais

Iara Guimarães Altafin | 27/08/2015, 16h09

A área de florestas plantadas no Brasil está perto de 8 milhões de hectares e a transformação de eucalipto e pinus, principalmente, em papel, celulose, carvão vegetal e painéis de madeira gerou uma receita bruta de R$ 60 bilhões em 2014.

Ao lado do resultado econômico do setor, também sua organização, avanço tecnológico e potencial no confisco de gases de efeito estufa chamaram a atenção dos senadores em debate realizado nesta quinta-feira (27) pelas Comissões de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA).

Investimentos em biotecnologia e engenharia genética para o cultivo de árvores colocaram o país no topo do ranking de produtividade, disse Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), associação que reúne 70 empresas do setor.

A produtividade brasileira, informou ela, é de 40 metros cúbicos de madeira por hectare/ano, distante do segundo colocado, o Chile, com 17 metros cúbicos por hectare/ano. Nos Estados Unidos, a produtividade é de 10 metros cúbicos por hectare/ano e na Europa, 7 metros cúbicos por hectare/ano.

– Não temos concorrente no planeta. O Brasil é o país mais capacitado do mundo para oferecer produto de madeira ao mercado mundial. Oferecemos madeira três vezes mais rápido que o segundo colocado – frisou Carvalhaes.

Clima

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS), um dos autores do requerimento para realização do debate, destacou ainda a contribuição do setor na promoção de medidas de mitigação dos impactos das mudanças climáticas e na recuperação de áreas degradadas.

Conforme dados citados pela presidente do IBÁ, as florestas plantadas estocam hoje 1,6 bilhão de toneladas e retiram anualmente da atmosfera 130 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), com a reposição das árvores cortadas.

Elizabeth de Carvalhaes assegurou que o plantio comercial de árvores é feito em áreas já abertas, havendo ainda o compromisso de recomposição de matas nativas.

– Para cada hectare plantado, as empresas recuperam 0,7 hectare. O Brasil possui 7,7 milhões de hectares de florestas plantadas e quase 6 milhões de hectares de recuperação de florestas naturais em áreas degradadas. Se um dos compromissos do Brasil é combater o desmatamento, a indústria do setor faz isso – afirmou.

Integração com agricultura

Em resposta à senadora Ana Amélia (PP-RS), presidente da CRA, Elizabeth de Carvalhaes informou que, além do cultivo nas áreas das empresas, o setor tem hoje contratos de fomento com 22 mil produtores rurais, fornecendo muda, tecnologia e manejo florestal.

Nessas propriedades, disse, o plantio de árvores é uma atividade complementar a outras desenvolvidas pelo agricultor.

– A lógica de plantio de árvores é entrecortada pelas florestas naturais. E nossa política de fomento é incluir famílias rurais com múltiplos usos do território, não é de monocultura.

A contribuição do setor para a redução dos impactos das mudanças climáticas e a possibilidade de complementação de renda para os agricultores foram elogiadas pelos senadores Donizeti Nogueira (PT-TO), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Acir Gurgacz (PDT-RO) e José Medeiros (PPS-MT).

Certificação

Carvalhaes explicou que há um esforço do setor em certificar internacionalmente toda a área de floresta plantada, para que se possa utilizar o potencial da certificação na valorização dos produtos.

Contam para a certificação aspectos como aproveitamento de áreas já abertas, recuperação de terras degradadas, integração com matas nativas, associação com produção agrícola e, principalmente, a origem legal da madeira.

– Na China, na Europa, nos Estados Unidos, o medo do comprador é de estar comprando um produto proveniente de madeira ilegal – disse, ao observar o impacto que pode gerar a notícia de que o produto de uma grande empresa seja embalado por papel fabricado com madeira ilegal.

Além dos produtos convencionais derivados da madeira, ela citou exemplos de novos mercados, como o de fibras vegetais utilizadas na fabricação de aeronaves, em substituição ao alumínio, e de celulose fluff, utilizada na fabricação de fraldas para bebês.

Indústria de transformação

Ao responder a questionamento do senador Blairo Maggi (PR-MT), Luiz Ramires Junior, presidente da Câmara Setorial de Florestas Plantadas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, disse ser essencial a integração entre as áreas cultivadas e o segmento industrial.

– A exportação de madeira in natura não tem grande valor agregado, então é muito importante que a gente tenha a indústria interligada à floresta. Se a indústria cresce, com certeza a floresta vem atrás – disse Ramires.

Conforme afirmou, o setor trabalha com a perspectiva de chegar a 15 milhões de hectares plantados até 2030, o que representaria um incremento de área equivalente a 80% do compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares, assumido pela presidente Dilma Rousseff em junho, durante viagem oficial aos Estados Unidos.

Apesar do crescimento das florestas plantadas, o senador Jorge Viana (PT-AC) disse ser ainda insuficiente, apontando a necessidade de "empoderamento” das políticas para o setor.

– A redução das emissões de gases de efeito estufa se deu com a redução do desmatamento, mas poderia ser ampliada fortemente se nós ampliássemos as florestas. Um país como o nosso era para ter 30 milhões de hectares de florestas plantadas – observou, defendendo mais atenção do poder público ao cultivo de árvores no país.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)