Participantes de audiência pública defendem maior apoio ao futebol feminino

Da Redação | 29/05/2015, 09h06

A Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) esteve reunida durante toda a manhã da quarta-feira (27) para um debate sobre a situação do futebol feminino no país. Os 120 anos da primeira partida de futebol feminino são comemorados em 2015. Durante o debate, os participantes reivindicaram mais incentivo financeiro e um calendário que ocupem os times na maior parte do ano.

— O esporte tem que ser visto como um fator de inclusão social — destacou a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), vice-presidente da comissão.

Para ela, o governo precisa unificar as políticas e as ações dos diversos ministérios envolvidos com o tema, como a Secretaria de Políticas de Mulheres da Presidência da República e o Ministério do Esporte. A senadora sugeriu que seja criada uma conferência nacional do esporte, nos moldes da Conferência Nacional de Educação (Conae), e propôs que o Ministério do Esporte atualize a Lei de Incentivo ao Esporte, cuja vigência termina em 2015.

A senadora também destacou a importância da Medida Provisória 671/2015, em tramitação no Senado, que trata da responsabilidade fiscal dos clubes brasileiros. Uma das contrapartidas exigidas para que as agremiações endividadas obtenham refinanciamento de suas dívidas é o investimento nas categorias de base e no futebol feminino, ponto que precisa ser defendido, segundo a parlamentar:

— Temos que fortalecer essa iniciativa prevista no texto da MP. Não por acaso a luta das mulheres contra o preconceito é secular e temos longa caminhada pela frente. De 81 senadores, há só 13 mulheres. E essa realidade se reflete em outras áreas, inclusive no campo esportivo — disse a senadora, para quem a CBF poderia fazer muito mais para promover o futebol feminino.

A representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Beatriz Gregório, disse que, apesar dos avanços, há ainda inúmeros desafios a ser enfrentados.

— Precisamos garantir o pleno direito ao esporte e ao lazer, superar os preconceitos, criar um calendário nacional e internacional, além de profissionalizar as mulheres, não as atletas, mas em outras funções, como técnicas e árbitras — ressaltou.

A coordenadora de campanha do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Amanda Kamanchek, concorda com a necessidade de inserir as mulheres nos postos de comando do futebol. Ela ressaltou ainda o que chamou de ganhos “fora do campo”. Além do desenvolvimento no esporte, as atletas ganhariam em confiança, coragem e autoestima.

Interesse financeiro

Para o senador Romário, a categoria nunca interessou à CBF porque não dá lucro e, se não há dinheiro, "eles não podem roubar". O senador só poupou Marco Aurélio Cunha, diretor de Futebol Feminino da entidade, que participou da audiência pública. O ex-jogador disse confiar no trabalho do diretor e acreditar em melhorias futuras.

— Gostaria de abrir uma exceção, dizendo que existe sim pessoas honestas e competentes CBF, e uma delas está aqui, o Marco Aurélio Cunha, cuja história já conheço. Posso dizer que passei a acreditar que o futebol feminino pode dar um salto positivo — acrescentou.

Na opinião de Marco Aurélio, o incremento do futebol feminino passa por uma série de ações que não cabem somente à CBF. A primeira delas é papel das escolas, que deve incentivar o jogo misto, com meninos e meninas brincando juntos, o que já é feito em países desenvolvidos e com destaque no cenário internacional na categoria:

— Por que o menino recebe uma bola de futebol e a menina vai jogar queimada? A separação só deve ocorrer com o crescimento das crianças. Na formação básica, pode-se misturar. E é assim nos países mais desenvolvidos, como Suécia, Canadá, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Alemanha. Será que eles estão errados? — indagou.

Marco Aurélio disse que a CBF está aberta ao debate e que é contra obrigar os clubes profissionais a manterem times femininos. Para ele, isso pode se tornar mais um motivo de preconceito, e as meninas correm o risco de serem vistas como um fardo para as instituições.

O senador Omar Aziz (PSD-AM) defendeu as equipes femininas de futebol nas escolas. O senador, que foi governador do Amazonas, admitiu que não faria novamente uma arena como a construída em Manaus para receber os jogos da Copa do Mundo. Segundo ele, o empreendimento só gerou dívidas para a população.

— Fui governador e construí uma arena. Se me perguntassem se faria de novo, não faria. O custo-benefício para a população amazonense foi só endividamento. Ainda fiz dois CTs para duas seleções treinarem porque fui obrigado e estão lá hoje servindo a um futebol que está na Série D — lamentou.

Também participaram da audiência da CE a jogadora da Seleção Brasileira Débora de Oliveira, a Debinha; o embaixador do Reino Unido, Alexander Ellis; a secretária do Esporte e Lazer do Distrito Federal, Leila Barros; a coordenadora-geral de Futebol Profissional do Ministério do Esporte, Mariléia dos Santos, conhecida no meio esportivo como Michael Jackson; o diretor de Marketing da Caixa Econômica Federal (CEF), Gerson Bordignon; e o secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Rogério Haman.

Veja as apresentações em PowerPoint dos debatedores

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)