Para Cristovam, governo age de “modo atabalhoado” ao tentar corrigir seus erros

Da Redação | 22/05/2015, 13h36

No momento em que o país debate propostas de ajuste fiscal, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) tratou nesta sexta-feira (22), em Plenário, dos “desajustes” históricos e recentes da vida nacional, com foco especial nas ações dos governos do PT, desde 2003, que a seu ver detonaram a crise atual. Para o senador, agora o governo petista está tentando de modo “atabalhoado” corrigir os erros de suas políticas.

Cristovam observou, como exemplo, que agora o governo anuncia um corte de despesas R$ 69 bilhões, além de propor, por meio de medidas provisórias, redução de renúncias fiscais e de benefícios previdenciários e sociais que representam despesas de R$ 14 bilhões. Porém, ao mesmo tempo, conseguiu autorizar mais R$ 50 bilhões para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) gastar em subvenções, o que exigirá mais impostos para a despesa.

— Nós não estamos ajustando o desajuste de forma ajustada. Nós estamos tentando consertar o desajuste ajustando de forma atabalhoada — avaliou.

O senador disse que foi um dos críticos que, nos últimos anos, alertaram para os desajustes que estavam sendo promovidos, inclusive por meio de desonerações fiscais muito além do possível. Lembrou que desoneração significa o governo abrir mão de receber impostos, o que gera déficit, a não ser que tivesse redução compensatória de gastos. Segundo ele, foram R$ 240 bilhões de desonerações para estimular a venda de carros e outros bens industriais.

— Se você abre mão de renda, imagine, você abre mão de parte do seu salário, e se não tiver outra fonte, ou não reduzir os seus gastos, você vai ter um déficit no final do mês. É isso que nós fizemos — salientou.

Gastos excessivos

O excesso de gastos do governo foi outra fonte de desajustes, de acordo com o senador. Cristovam disse que parte foi com gastos “bons”, com programas sociais, mas que isso foi feito com uma “dose de irresponsabilidade”. Na sua avaliação, quando um governo cria programas sociais deve levar em consideração tanto a “ética” quanto a “aritmética”.

— Sabe como faz isso? É só dizer em quanto tempo a gente faz. Não fazer nem mesmo as boas coisas apressadamente. Eu nunca engano: meu projeto para mudar a educação brasileira leva 20, 30 anos, porque querer fazer isso antes é populismo, demagogia e irresponsabilidade — comentou.

Outra forma de fomentar o atual desajuste foi a ineficiência da máquina, conforme Cristovam. Na prática, significa gastar mais num projeto por falta de planejamento e cuidado na construção de obras, como aconteceu com a chamada transposição do Rio São Francisco.

— E, então, vem o outro lado, que não é ineficiência, é corrupção mesmo. Corrupção aumenta os gastos. Ao aumentar os gastos, cria um desajuste que nós estamos pagando.

Pacotes

Cristovam ainda citou como fator de desajustes os “sucessivos pacotes” de medidas, que dificultam o planejamento das empresas nos investimentos e intranquilizam os trabalhadores. Destacou também a falta de preocupação com a infraestrutura, “com os portos, com as estradas, com aquilo que faz a economia funcionar”. Outro fator teria sido o descaso com a dívida pública, que além de tudo teria sido “maquiada”.

— O governo da presidente Dilma escondeu, com pedaladas, com química, com contabilidade criativa, os desajustes. E aí, quando se descobre, não é mais desajuste apenas: é um desastre completo! — acusou.

Euforia

Cristovam criticou ainda a distribuição de benesses para capturar apoio ao governo, inclusive dentro do Congresso. Também falou da “euforia” que tomou conta dos governos petistas, o que obscureceu a capacidade de enxergar a realidade.

— O governo do PT mergulhou [na ideia] de que era o melhor do mundo, de que o Brasil estava começando ali, em 2003. A euforia de que o Lula era o salvador de tudo; de que tudo era possível; de que este país tinha tirado 30 milhões da miséria, e que não tirou! A euforia de que tinha criado uma classe média de cento e tantos milhões, e que não criou!

Com relação aos desajustes históricos, cujos efeitos ainda não teriam sido superados, Cristovam citou desde a longa duração do trabalho escravo à ideia de meados do século passado de “crescer 50 anos em 5”. Lembrou que houve grande endividamento para fomentar prioridades equivocadas, a exemplo do estímulo à indústria automobilística e abertura de estradas, deixando de lado soluções mais eficientes, como  o transporte ferroviário e fluvial.

— E aí só teve um jeito: inflação, que é um desajuste. A inflação está para o organismo como a febre. A febre é a prova de um desajuste no seu organismo, uma doença. A inflação é a febre da economia. E nós fizemos isso — lamentou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)