Idealizador do sistema de comunicação do Senado comemora os 20 anos do jornal

Da Redação | 19/05/2015, 20h50

Há 23 anos o jornalista Fernando César Mesquita recebeu a missão de criar o projeto de comunicação do Senado. O pedido veio do próprio presidente da Casa à época, ex-senador José Sarney. A tarefa não era fácil, seria necessário primeiro enfrentar a burocracia e a a própria descrença dos parlamentares. Em seguida, era preciso montar uma grande estrutura, comprar equipamentos, contratar profissionais.

O sistema de comunicação do Senado foi implantado aos poucos, começou com o jornal, que este ano completa duas décadas; depois vieram a rádio e a televisão. O passo seguinte foi a estruturação da agência de notícias e da área de relações públicas. Outra novidade foi a ligação direta com a sociedade pelo telefone, no número 0800.

A experiência de repórter político ajudou Fernando César a realizar a sua empreitada. Em poucos anos, os veículos de comunicação do Senado se tornaram referência em  todo o país e deram visibilidade aos projetos, aos discursos e ao trabalho das comissões.

– Foi assim que nasceu a comunicação do Senado e que tem sido hoje um instrumento importante para que o povo brasileiro conheça e saiba o que o Legislativo faz, com seus defeitos e qualidades – disse ele.

Na comemoração dos 20 anos do Jornal do Senado, o ex-secretário de Comunicação avalia como positivo o trabalho que surgiu de uma iniciativa inovadora e que transformou a comunicação pública no Brasil. Um modelo reproduzido na Câmara dos Deputados, nas Assembleias Legislativas e nas câmaras municipais pelo país.

Agência Senado: Como começou essa experiência?

Fernando César: Foi um projeto que eu apresentei ao presidente Sarney, a pedido dele, que tinha como escopo melhorar a divulgação do Senado, que era nenhuma. A grande imprensa não divulgava o que era realmente importante, só o que queria. Ela também perderia o monopólio da informação. Além disso, a população não sabia da importância do Congresso, não queria ver ou tinha visão distorcida.  Como eu tinha uma grande experiência desde quando eu cheguei aqui em 1963, era o repórter político mais novo, fui chefe de redação e de reportagem de vários veículos - inclusive do Estado de S. Paulo por dez anos - eu sabia que realmente era necessário mostrar o trabalho do Congresso, principalmente depois dos anos de ditadura que nós vivemos.

Agência Senado: Qual foi a maior dificuldade?

Fernando César: Eu apresentei esse projeto numa sessão do Plenário, e os senadores na sua maioria achavam que era impossível fazer aquilo. Antonio Carlos Magalhães, que foi presidente do Senado, depois apoiou muito o desenvolvimento de todo esse projeto, dizia que era o DIP do Sarney. O DIP era o Departamento de Imprensa e Propaganda do tempo do Getúlio Vargas. O [ex-senador] Esperidião Amin dizia: “eu quero apenas aquele clipping da Radiobrás”, ou seja, não acreditava, porque conhecia o Senado.  Aqui é uma burocracia muito complicada, de repente você vem com um projeto desse tamanho para implantar...

Agência Senado: Como era o trabalho dos primeiros profissionais ?

Fernando César: Não foi fácil, a gráfica não estava estruturada para fazer um jornal.  Havia problema de hora extra, de gente trabalhar a noite toda, diagramadores, o pessoal do Prodasen [Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado]. Nós fizemos vários concursos - no início não havia separação por área, depois nós fizemos concursos direcionados. E muitos jornalistas que vieram trabalhar não tinham nenhuma experiência, embora fossem formados em Comunicação, mas eram muito bem orientados a respeito. Inclusive nós tínhamos uma legislação muito clara que culminou na elaboração do Manual de Redação da Comunicação do Senado. E recentemente aprovamos o planejamento estratégico, então todo mundo tinha consciência do seu dever, da sua responsabilidade.

Agência Senado: O jornal completou 20 anos, como foi essa evolução?

Fernando César: Houve realmente uma coerência em relação ao projeto inicial no jornal e em todos os veículos, que teve a participação de gente muito operosa. Ele tinha uma tiragem muito grande e chegou a ser distribuído no país todo, mas a postagem era muito cara. E como nós já tínhamos outros veículos que podiam suprir essa necessidade de levar a informação do Senado, então reduzimos a circulação à Brasília e à internet, até porque o senador podia imprimir o jornal do onde quer que ele estivesse, na quantidade que  ele quisesse.  A grande imprensa não queria, houve muitas críticas, mas hoje ela reconhece a importância e usa muito material nosso para dar informação. Acredito que 20 anos depois o Jornal do Senado cumpriu o seu papel e acredito que vai continuar cumprindo. Porque ele é uma referência para a comunicação pública.

Agência Senado: E quais eram as recomendações sobre a linha editorial?

Fernando César: Eu quero aproveitar e homenagear não só o pessoal que trabalhou nessa época. Além do presidente Sarney que foi o responsável pela implantação, também os diretores do Senado e os outros presidentes que não alteraram a linha que foi estabelecida, ou seja, independência, nada de partidarismo e sem censura, sem edição. Aquilo que tinha sido dito era para ser respeitado.

Agência Senado: Qual é o impacto da TV Senado?

Fernando César: A TV Senado está no Brasil todo. Nós começamos com uma divulgação através da Radio Nacional, depois da TV Cultura e depois colocamos no satélite, daí veio a TV a cabo e em seguida a TV aberta. Fomos também a primeira televisão do Brasil a estar na internet. E assim o povo brasileiro hoje sabe o que acontece aqui em Brasília, o que ele realmente quer e é importante para ele. Porque qualquer coisa que se decida ou que se discuta no Plenário do Senado ou das comissões é de interesse da cidadania, do município e dos estados. O ex-senador Pedro Simon me confessou que passou a receber mais atenção do povo depois que ele começou a aparecer na TV e, por isso, teve muito mais votos no interior gaúcho.

Agência Senado: A transmissão ao vivo da TV Senado rendeu muitos momentos marcantes?

Fernando César: Tem muita história, viu? Muito fato engraçado, muito folclore. A mulher do [falecido] senador Romeu Tuma  reclamava toda vez que ele falava errado. Já a esposa de outro senador ligava para se queixar que a careca do marido estava aparecendo demais. E a gente respondia: “Então o jeito é arrumar uma peruca” [risos].

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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