Ênfase a emergentes não afeta relações com Washington, diz futuro embaixador nos EUA

Marcos Magalhães | 26/03/2015, 15h57

Os recentes gestos de aproximação promovidos pelo governo brasileiro em direção a nações em desenvolvimento e potências emergentes como China e Índia não afetam as relações do Brasil com os Estados Unidos, disse nesta quinta-feira (26) o embaixador designado para representar o país em Washington, Luiz Alberto Figueiredo Machado, cuja indicação foi aprovada por unanimidade pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Ao contrário, observou, as relações bilaterais tendem a ser “cada vez mais fortes”.

— Não concordo com o argumento de que as relações com os Estados Unidos tenham sofrido em virtude de um privilegiar de relações com outras partes do mundo. No Itamaraty há quase um mantra de que não há relações excludentes e que todas são necessárias para o interesse nacional — afirmou Figueiredo, que já ocupou o cargo de ministro das Relações Exteriores e cuja indicação teve como relator o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Ele informou que a presidente Dilma Rousseff pretende aceitar novo convite feito pelo presidente norte-americano Barack Obama para que ela faça uma visita de Estado a Washington. Essa visita já estava programada para ocorrer em 2013, mas acabou sendo adiada após a publicação de denúncias de espionagem de autoridades brasileiras por parte dos órgãos de segurança americanos.

Na opinião do embaixador, erraram os que apostaram em um declínio da importância do papel dos Estados Unidos no mundo, após a ascensão das chamadas potências emergentes. A seu ver, a emergência desses países faz parte da nova dinâmica das relações internacionais e não representa o declínio dos Estados Unidos, único país, como observou, que tem “capacidade de atuação em todo o mundo e conta com o dinamismo de sua economia de alta tecnologia e inovação, seu poderio militar incontrastável e sua atuação diplomática global”.

Figueiredo anunciou sua intenção de criar, na embaixada em Washington, um observatório de inovação, capaz de identificar setores de ponta nos quais empresas e institutos de pesquisa dos dois países possam trabalhar em conjunto. Ele pretende ainda promover um forte trabalho de promoção comercial. A seu ver, a retomada da economia dos Estados Unidos e a desvalorização dor real frente ao dólar podem favorecer o crescimento das exportações brasileiras para aquele país. Em 2014, informou, as exportações para os EUA cresceram 9%.

Oriente Médio

Na mesma reunião, presidida pelo senador Luiz Henrique (PMDB-SC), a comissão também aprovou a indicação do diplomata Francisco Carlos Soares Luz para exercer o cargo de embaixador brasileiro na Jordânia. O relator da mensagem também foi Tasso Jereissati.

Em sua exposição aos senadores, Luz disse que a Jordânia exerce um papel estratégico no Oriente Médio e pode ser considerada um “oásis de estabilidade em uma zona altamente conflituosa”, além de importante posto de negociação diplomática. Como lembrou o embaixador, a Jordânia tem um relacionamento especial com Israel e “grande resiliência política”. Passou pela primavera árabe “muito tranquilamente”, observou, e após promover reformas políticas limitadas passou a ser o segundo país mais democrático da região, após o Marrocos. Além disso, abriga em seu território 370 mil palestinos e 625 mil sírios em campos de refugiados.

No campo do relacionamento bilateral, informou o embaixador, o Brasil é visto pelo governo da Jordânia como uma oportunidade para diversificar seus relacionamentos diplomáticos e como fornecedor de energia e alimentos, dos quais é bastante dependente do exterior. Além disso, acrescentou Luz, a Jordânia tem interesse na participação de empresas brasileiras na construção da obra de transposição de água do Mar Vermelho ao Mar Morto.

Ideologia

Relator das duas mensagens presidenciais, Tasso Jereissati abriu os debates na comissão alertando para a existência no governo brasileiro de um sentimento “anticapitalista e antiamericano”.

O senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) disse ser “defensor de um novo patamar nas relações com os Estados Unidos”, com ênfase em novos setores, como a bioeconomia.

— A presença de Luiz Alberto Figueiredo na embaixada brasileira é uma oportunidade de construirmos um novo patamar para a relação Brasil-EUA. Inclusive, para que possamos dar sequência à ambição do Brasil de se fazer mais presente no cenário internacional — completou o senador.

Da mesma forma, o senador Jorge Viana (PT-AC) relatou viagem que fez à costa oeste dos Estados Unidos, onde mais de 500 laboratórios estão se instalando, e previu possibilidade de cooperação dos dois países nas áreas de fármacos e cosméticos, especialmente depois da aprovação da nova Lei da Biodiversidade.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) manifestou satisfação com a notícia, transmitida por Figueiredo, de que podem ser retomadas as exportações de carne in natura para os Estados Unidos. Por sua vez, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) demonstrou preocupação com uma inclinação dos Estados Unidos em direção aos países do Pacífico. O senador Edison Lobão (PMDB-MA) lembrou que o ex-presidente Ernesto Geisel chegou a romper a cooperação militar com Washington. Lobão defendeu fortalecimento das relações com os EUA.

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse não ter dúvidas da importância da relação com os Estados Unidos, que exercem atualmente o papel de “motor da retomada do desenvolvimento econômico mundial”. O Senador Hélio José (PSD-DF), por sua vez, pediu maior cooperação com os Estados Unidos nas pesquisas sobre novas fontes de energia.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)