Participantes de ato no Senado manifestam repúdio ao terrorismo e à intolerância

gorette-brandao | 15/01/2015, 18h50

O Senado realizou nesta quinta-feira (15) ato contra o terrorismo e a islamofobia e pela liberdade de expressão. Sob o lema “Somos Charlie”, o evento foi um gesto de solidariedade às famílias das vítimas dos atentados ocorridos semana passada na França, que resultaram na morte de 17 pessoas.

Pelo menos 40 representantes diplomáticos participaram do ato, realizado no auditório do Interlegis. Líderes religiosos e dirigentes de entidades da área da comunicação, entre outros segmentos, também atenderam ao chamado do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que convocou o evento.

Ao abrir o ato, Cristovam pediu um minuto de silêncio em memória das vítimas. O senador ressaltou que a reunião foi motivada pelo sentimento de indignação com a barbaridade dos atos cometidos por homens ainda jovens motivados pelo fanatismo. A seu ver, pela liberdade religiosa, eles tinham o direito de considerar como blasfêmias as imagens publicadas na revista Charlie Hebdo, mas os jornalistas também tinham o direito de produzi-las. De todo modo, o conflito de ideias não poderia levar ao extremo de se aniquilar a vida de pessoas.

— No passado, a mesma intolerância levou à queima na fogueira quem agredisse as crenças dominantes, como ocorreu a Giordano Bruno, queimado por sua blasfêmia científica — observou.

Islamofobia

Para Cristovam, também é causa de indignação o fato de o mundo contemporâneo, com todos os avanços científicos e tecnológicos e mesmo nas artes, não ter conseguido avançar na cultura da paz e no exercício pleno da tolerância. Ele alertou para o risco da islamofobia, com perseguições e atos de discriminação contra os que professam o islamismo (mais de 1,6 bilhão de pessoas), por culpa de fanáticos que, conforme assinalou, “existem em qualquer religião”.

— Estamos indignados porque muitos estão usando o maldito gesto de alguns fanáticos na arrogante justificativa para criticar, repudiar e até perseguir aos que praticam a religião e a cultura do Islã — denunciou.

O senador ainda criticou a indiferença com atos terroristas em outros cantos do mundo. Ele lembrou que na mesma semana das mortes na França, quase 18 mil pessoas foram vítimas do terror na Nigéria, na Síria e no Iraque. Mencionou, ainda, o sacrifício de uma menina de 10 anos, usada para transportar uma bomba para dentro de um mercado na Nigéria.

Esperança

Apesar de tudo, acrescentou o senador, o evento também foi animado pela esperança de que a humanidade ainda possa reorientar seu destino. A seu ver, a vitória virá por meio das crianças e de investimentos em educação. Segundo ele, não foi por outra razão que o símbolo das marchas depois da tragédia em Paris foi o lápis, e não a metralhadora. Ele anunciou que realizará novos encontros, com representantes de diversos países, para discutir “como fazer o mundo educado”.

Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), os atentados em Paris foram manifestações repetidas de longo histórico humano de desrespeito a dois valores fundamentais, a liberdade de expressão e a tolerância religiosa. Como fato positivo, ele destacou a atitude do papa Francisco, que pediu maior diálogo e respeito entre as religiões.

— Não há razão para que o mundo seja dividido por religiões. Cada um tem a sua, cada um que a defenda e que respeite as outras — disse Simon.

Guerra sem vitória

O xeique Muhammad Zidan, do Centro Islâmico de Brasília, que integrou a mesa, lamentou as guerras feitas pelo ser humano contra seu próximo. Ao fim, assinalou o líder religioso, não existe ganhador. Depois, apelou aos integrantes de todos os credos para que retomem os ensinamentos dos profetas, que trouxeram “o amor, verdade, pureza e paz”. Também saudou o Brasil, por abrir suas portas a todos os povos, independentemente de cor, raça ou religião.

O embaixador da França, Denis Pietton, foi representado pelo ministro-conselheiro Gaël de Maisonneuve. Ele louvou a força das manifestações do povo francês e de toda a comunidade internacional em resposta aos atentados. Mas disse esperar que os islâmicos, em seu conjunto, não sejam confundidos com o “fanatismo e a irracionalidade”. Além disso, o diplomata manifestou a crença em um convívio harmônico de todas as etnias em seu país.

— Liberdade de expressão e de religião são parte dos valores da República e vamos perseverar na defesa desses valores — declarou.

Francisco Fontan Pardo, chefe-adjunto da delegação da União Europeia no país, destacou que, após o choque causado pelos acontecimentos, as mobilizações em toda a comunidade internacional evidenciaram repulsa às “ações covardes”. Mais do que nunca, conforme assinalou, os países-membros da comunidade estão unidos contra a “praga” do extremismo.

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Augusto Schröder, repetiu seguidas vezes a expressão “eu sou Charlie”, salientando diversos motivos para seu emprego, primeiro como homenagem aos mortos na redação da revista. Citou ainda a frase para reafirmar o direito à vida e à liberdade de expressão, a seu ver um patrimônio de todas as pessoas, não apenas de jornalistas e jornais. Por fim, usou mais uma vez a frase para “repudiar o terrorismo como forma de ação política”.

Também participaram da mesa do evento a embaixadora da Romênia, Diana Radu, e Rômulo Neves, que representou o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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