Brasil antecipou-se à normalização das relações entre EUA e Cuba

Marcos Magalhães | 17/12/2014, 18h23

Ao participar em janeiro deste ano da inauguração do novo porto de Mariel, a 45 quilômetros de Havana, presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil tinha a intenção de tornar-se “parceiro econômico de primeira ordem de Cuba”. Ao lado do presidente cubano Raúl Castro, ela anunciou que, além do financiamento de US$ 800 milhões, já concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à construção do porto por empresas brasileiras, novos empréstimos seriam feitos ao governo cubano para a implantação de uma zona econômica especial na retroárea do porto.

A ousada iniciativa de política externa acabou tendo ampla repercussão na política interna. A oposição fez duras críticas ao financiamento do BNDES à ampliação do porto de Cuba, no momento em que vários portos brasileiros enfrentam dificuldades para a sua modernização. A acusação chegou à campanha para as eleições presidenciais do ano passado, da mesma forma que as críticas feitas por candidatos da oposição à grande participação de médicos cubanos – cujos salários são parcialmente retidos pelo governo de Havana – no Programa Mais Médicos.

Temas de política externa raramente são tratados em campanhas eleitorais no Brasil. Se a ampliação do porto de Mariel chegou lá, provavelmente terá sido pela relação especial mantida com Cuba desde a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O principal objetivo do governo brasileiro no relacionamento bilateral, durante os últimos anos, foi o de antecipar-se à normalização das relações de Cuba com os Estados Unidos, que começou nesta quarta-feira (17), e ao fim do embargo econômico, que deve demorar um pouco mais. E Mariel seria a ponte em direção a esse novo cenário geopolítico da região.

Em dezembro do ano passado, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) ouviu aquele que viria a ser o novo embaixador brasileiro em Cuba, Cesário Melantonio Neto. Em seu depoimento aos senadores, ele informou que o porto de Mariel será um hub – concentrador de cargas – para toda a região do Caribe.

— O Porto de Mariel vai ser, na região do Caribe e da América Central, extremamente importante. Esse projeto conta também com uma zona que no Brasil seria de processamento de exportação, onde empresas terão uma série de facilidades, como incentivos fiscais, podendo utilizar drawback sem limites para a remessa de dividendos. E uma das tarefas nessa nova gestão, se os senhores aprovarem, na nossa embaixada em Cuba, será procurar fazer com que empresas brasileiras tenham interesse em se estabelecer na zona especial de desenvolvimento de Mariel — afirmou o embaixador.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)