Aproximação entre Washington e Havana derrete últimos vestígios da Guerra Fria

Marcos Magalhães | 17/12/2014, 17h14

Vinte e cinco anos depois da queda do Muro de Berlim, o início da normalização das relações entre os Estados Unidos e Cuba, anunciado nesta quarta-feira (17) em Washington e Havana, quebra as últimas pedras de gelo da Guerra Fria. Chamada pela agência de notícias norte-americana CNN como uma operação de ‘degelo’, a retomada dos laços entre os dois países, que contou com o apoio do Papa Francisco, encerra cinco décadas de hostilidades entre vizinhos que nos anos 60 protagonizaram nas Américas o conflito ideológico entre capitalismo e socialismo.

O acordo foi anunciado após 18 meses de negociações secretas no Canadá. Incluem a reabertura de embaixadas nas capitais dos dois países, maior facilidade para viagens e uma gradual eliminação do embargo comercial à ilha. Foi um passo considerável do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que acaba de sofrer uma derrota parlamentar e terá de enfrentar as críticas dos conservadores americanos e da comunidade cubana de Miami.

O principal argumento de Obama, durante a divulgação da medida, foi a inutilidade do rompimento de relações diplomáticas como instrumento de pressão sobre o governo cubano para que adotasse medidas de democratização do regime. Cinco décadas depois do rompimento das relações, ocorrida ainda durante a gestão de John Kennedy em Washington, quem manda em Cuba ainda são os irmãos Castro. Fidel, um dos protagonistas da Crise dos Mísseis em 1961, não está mais no Palácio da Revolução. Mas seu irmão Raúl negociou com Obama os termos do acordo.

O mundo já está longe da crise de 53 anos atrás, quando os Estados Unidos e a União Soviética estiveram muito próximos de iniciar uma Terceira Guerra Mundial, por causa da instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba. A própria União Soviética, que prestou grande ajuda a Cuba durante os primeiros anos da Revolução, não existe mais. Cuba é um dos poucos países do mundo a adotar praticamente o mesmo modelo socialista que se espalhou pelo Leste Europeu após a II Guerra Mundial. Mas há muito tempo deixou de representar uma ameaça militar aos Estados Unidos.

Atualmente, os Estados Unidos mantêm relações cordiais até mesmo com o Vietnam, palco de uma guerra nos anos 70 que marcou toda uma geração de americanos. A demora no restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba deveu-se muito mais a questões de política interna norte-americana, ligadas ao crescente peso dos votos dos imigrantes latinos. Obama fez a sua aposta. Foi um gesto ousado de quem está a dois anos do fim de seu governo.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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