Bisneto de Solano López pede ao Brasil que devolva canhão da Guerra do Paraguai

Ricardo Westin | 28/11/2014, 22h44

Miguel Solano López é um dos bisnetos de Francisco Solano López, o presidente paraguaio na época da guerra. De acordo com ele, “para que as feridas se cicatrizem no Paraguai”, o Brasil precisa devolver um canhão que foi levado como troféu de guerra e atualmente está exposto no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. A arma é conhecida como canhão cristão, por ter sido feita com o metal dos sinos das igrejas de Assunção.

O Itamaraty, porém, afirma que não há “negociação em curso sobre o assunto ou pedido oficial por parte do governo do Paraguai”.

Miguel Solano López tem 69 anos e é o embaixador do Paraguai em Londres. Na entrevista ao Jornal do Senado, ele fez questão de frisar que falava não como diplomata, mas como “descendente do personagem mais famoso da história do Paraguai”. A seguir, trechos da entrevista:

“Considero a expressão Guerra do Paraguai ofensiva, porque dá a entender que foi o Paraguai que provocou o conflito. Prefiro chamar o conflito de Guerra da Tríplice Aliança. O paraguaio se sente ofendido até o fundo da alma quando se insiste em dizer que ele foi o culpado e que os aliados foram inocentes. O conflito foi provocado pelo Brasil.

Francisco Solano López era um homem de paz, tanto que sempre buscou assegurar a independência do Uruguai. O Paraguai enfrentava problemas para usar o porto de Buenos Aires. Por isso, o acesso ao porto de Montevidéu era questão de vida ou morte. O Paraguai tinha um acordo com o Brasil pelo qual ambos se tornaram garantidores da independência do Uruguai. Em 1864, com a revolução, subiu ao poder em Montevidéu um governo apoiado pela Argentina. O Brasil, porém, negou-se a garantir a independência uruguaia. É então que surge a situação de guerra entre Brasil e Paraguai.

A guerra não foi favorável ao Paraguai, mas os paraguaios veem o duque de Caxias com profundo respeito, porque ele era um homem integramente militar. Quando as tropas aliadas tomam Assunção, Caxias considera a guerra terminada. Para dom Pedro II, porém, a guerra só acabaria com a morte de Francisco Solano López. É então que chega o conde d’Eu, que comandou as tropas no último ano da guerra. Foi nesse ano que o Paraguai foi completamente destroçado.

Quando me perguntam por que os paraguaios conhecem mais a guerra que brasileiros, argentinos e uruguaios, a resposta é simples: o Paraguai nunca conseguiu se recuperar completamente de toda aquela destruição. Compare com a 2ª Guerra Mundial. Os aliados, logo depois, fizeram um esforço para recuperar os países derrotados. A Alemanha e o Japão ressurgiram em poucos anos. No caso do Paraguai, mesmo passados 150 anos, isso nunca aconteceu.

O Uruguai e a Argentina já deram passos importantes em direção à reconciliação. Em Montevidéu, existe uma estátua de Francisco Solano López a cavalo. O presidente argentino Juan Domingo Perón devolveu relíquias ao Paraguai. Recentemente, Cristina Kirchner batizou um regimento do Exército argentino com o nome de Francisco Solano López.

O Brasil, no governo de João Figueiredo, restituiu a espada que Solano López tinha na mão no momento de sua morte. Mas falta entregar o canhão cristão, que, dos troféus de guerra, é o mais caro aos paraguaios. Quando isso ocorrer, não tenho dúvidas de que as feridas no Paraguai se cicatrizarão. A iniciativa da reconciliação deve partir do Brasil, que foi o vencedor, não do Paraguai.”

150 anos depois, guerra ainda é ferida aberta no Paraguai

“Guerra do Paraguai foi feita às apalpadelas”, afirmou Caxias no Senado

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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