Empresário nega na CPI da Petrobras ilegalidade em contratos intermediados por doleiro

Anderson Vieira e Larissa Bortoni | 27/11/2014, 16h59

O empresário Márcio Bonilho, sócio da empresa Sanko-Sider, declarou nesta quinta-feira (27) à CPI Mista da Petrobras que contratou o doleiro Alberto Youssef para atuar como representante junto a empreiteiras que prestam serviços à estatal. Também admitiu ter conhecido o ex-diretor de Abastecimento da petrolífera Paulo Roberto Costa, dois anos após o executivo ter deixado a companhia. Bonilho negou, no entanto, haver ilegalidade nos negócios firmados por ele com Youssef e Costa — ambos presos pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, que investiga esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro.

Sobre as 12 negociações de intermediação feitas com Youssef, o empresário disse que os pagamentos ao doleiro — cerca de R$ 38 milhões — foram regulares, com notas fiscais registradas na Secretaria da Receita Federal.

— Eu tive uma conversa muito franca com o senhor Alberto Youssef e disse assim: nossa empresa tem notas fiscais eletrônicas. Contabiliza todas as notas. Paga via sistema bancário. Então, se você colocar notas fiscais problemáticas, vocês terão problemas, porque eu vou informar esse tipo de coisa. Eu só posso fazer operações legais. Eu não faço absolutamente nada ilegal — contou Bonilho.

A Sanko-Sider vendeu o equivalente R$ 198 milhões de produtos e serviços para a construtora Camargo Côrrea, com a ajuda de Youssef, em um período de cerca de quatro anos. Bonilho afirmou que praticou preços abaixo do mercado.

O executivo informou ainda que conta com uma rede de representantes a quem paga comissões entre 3% e 5% do total das vendas. Para Youssef, porém, o valor chegava a 15%. Bonilho explicou que o volume das negociações intermediadas pelo doleiro compensava as comissões mais altas.

O sócio da Sanko-Sider disse que os negócios diretos com a Petrobras não significam 2% do faturamento da empresa dele e que as vendas à  estatal são feitas via internet, num negócio impessoal e informatizado. Os outros 98% são para empresas que podem ou não ter contratos com a petrolífera.

Segundo oe executivo, a Sanko-Sider não é empreiteira, mas importadora de produtos siderúrgicos, com os mesmos sócios há 18 anos, 8 mil clientes ativos e mais de 200 funcionários. A atuação da empresa também é investigada pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato.

Dúvidas

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) quis saber de Bonilho o que o levou a contratar, como intermediário nos negócios, um doleiro que à época já tinha passagens pela polícia.  O empresário respondeu que, no início, não conhecia a reputação de Youssef, mas depois foi alertado por um amigo. Ele admitiu, porém, que optou por continuar com o acerto, uma vez que era muito vantajoso para a Sanko-Sider.

— Eu até achava que ele [Youssef] estava se recuperando, que não haveria mais falha. Eu confesso que não sou ingênuo. Eu tomei as atitudes e procurei advogado. Mas fiquei de olho em minha operação. Isso era o que mais me importava — afirmou.

Carlos Sampaio rebateu, alegando que o importante naquele momento para Bonilho foi o lucro e não o caráter de Youssef.

— Lucro legal, excelência — respondeu o empresário.

O relator em exercício da CPI Mista, deputado Afonso Florence (PT-BA), afirmou ter ficado claro que Márcio Bonilho conhecia as operações de Youssef. Por isso, na opinião do parlamentar, a comissão tem que confrontar o depoimento do empresário com as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público.

— Ficou evidente que ele [Bonilho] era um canal da relação do doleiro com as empreiteiras, apesar de ele reconhecer esses fatos com um conjunto de argumentos que buscam isentá-lo.

Sobre as relações com Paulo Roberto Costa, o empresário contou que fechou um único contrato de quatro meses com a Costa Global Consultoria, empresa do ex-diretor da Petrobras.

— Eu estabeleci um contrato de representação com ele [Costa], para que apresentasse empresas do exterior e ampliasse o leque de oferta de produtos no Brasil — disse Bonilho, afirmando que a consultoria não resultou em nehum negócio para a Sanko-Sider.

A próxima reunião da CPI Mista está marcada para a próxima terça-feira, 2 de dezembro, para acareação entre Paulo Roberto Costa e o também ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)