Oposição quer convocar Marcos Valério para depor na CPI Mista da Petrobras

Anderson Vieira | 19/09/2014, 11h10

Enquanto o ex-diretor Paulo Roberto Costa se negava a falar à CPI Mista da Petrobras, os parlamentares oposicionistas, além de reclamar do silêncio do depoente, centraram suas forças na apresentação de requerimentos para dar continuidade às investigações.  Só na quarta-feira (17), foram 14 entregues à comissão de inquérito, entre pedidos de convocações, quebras de sigilo e cópias de documentos. Desvendar uma possível conexão entre o doleiro Alberto Youssef e o Mensalão é um dos objetivos da oposição.

Um dos requerimentos, do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), pede a convocação do empresário mineiro Marcos Valério, que cumpre pena em regime fechado após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do Mensalão.

Ao justificar o requerimento, o deputado informa que a Polícia Federal apreendeu no escritório de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, um contrato de empréstimo no valor de R$ 6 milhões entre Valério e o empresário do ABC paulista Ranan Maria Pinto.

Onyx destaca ainda que na capa do contrato estava escrito à mão as palavras “Confidencial” e “Enivaldo”. Na opinião do parlamentar, trata-se de Enivaldo Quadrado, condenado a prestar serviços comunitários pelo STF na ação penal do Mensalão. Enivaldo também foi preso em março desde ano na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que desmontou o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que Youssef é acusado de integrar.

Pressão

Durante a sessão marcada pelo silêncio de Paulo Roberto Costa, parlamentares da oposição insistiram numa ligação entre a quadrilha de Youssef e o escândalo do esquema de compra de apoio parlamentar conhecido como Mensalão.

– A minha dúvida é zero de que o senhor Paulo Roberto Costa foi colocado na Diretoria de Abastecimento [da Petrobras] pelo senhor Janene [ex-deputado do PP], que pilotava naquela época um esquema de corrupção ligado ao Mensalão, sob comando e supervisão de José Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] – disse Onyx Lorenzoni.

– Esse não é o mensalão dois. É o mesmo mensalão com fontes diferentes pagando políticos. O operador lá atrás era Marcos Valério e o operador agora é Paulo Roberto Costa – afirmou o deputado Fernando Francischini (SDD-SP).

Os aliados, por sua vez, rebateram alegando que o governo tem dado total liberdade para que Polícia Federal e Ministério Público investiguem possíveis desvios de dinheiro na Petrobras. Além disso, para eles, a oposição tem usado  as denúncias para fins políticos e eleitorais:

- Infelizmente, o jogo que aqui se faz é o jogo da disputa política. O discurso radical que muitas vezes é feito aqui tem muito mais um objetivo político. Não podemos dizer que há um animus investigatório da parte de todos que aqui estão - afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Deliberação

Para que os requerimentos sejam votados pela comissão de inquérito é necessária a realização de reunião deliberativa, a ser marcada pelo  presidente da CPI Mista, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).

A comissão já aprovou a convocação de outros envolvidos nas investigações da PF e do Ministério Público. Entre eles, genros de Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef e da contadora Meire Poza. Todavia, a data para os depoimentos ainda não foram marcadas.

O próximo compromisso dos integrantes da CPI é na terça-feira (23), quando os parlamentares têm encontro marcado com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, para pedir o compartilhamento das informações prestadas por Paulo Roberto Costa no acordo de delação premiada com o Ministério Público e a Polícia Federal.

Alguns dos requerimentos apresentados recentemente:

Número Finalidade

748/2014

Convite ao empresário Hermes Freitas Magnus para explicar sua declaração à revista Isto É , segundo a qual o ex-deputado José Janene, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef levaram para a Petrobras parte do esquema do mensalão.

752/2014

Convocação de Enivaldo Quadrado, um dos 39 réus do processo do Mensalão e preso em março deste ano pela Operação Lava Jato.

753/2014

Convocação de Carlos Alberto Pereira da Costa. O advogado, acusado de ser laranja de Youssef, foi preso em março na Operação Lava Jato e solto recentemente depois de ter feito acordo para contar o que sabe à Justiça.

754/2014

Convocação de Marcos Valério, condenado e preso por ter sido considerado operador do Mensalão.

757/2014

Convocação de José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, e de Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República,  para esclarecer supostos pagamentos irregulares a pessoas que ameaçassem trazer a público informações sobre o envolvimento de autoridades nos negócios da Petrobras, conforme noticiado pela imprensa.
760/2014 Pede a Petrobras informações sobre um número de telefone corporativo da companhia do qual foram feitas diversas ligações para o doleiro Alberto Youssef em 2010.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: