Motivação política para morte de coronel não pode ser afastada segundo relatório da CDH

Anderson Vieira | 13/05/2014, 14h20

Após diligência no Rio de Janeiro para acompanhar as investigações sobre a morte do coronel Paulo Malhães, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) chegou à conclusão de que não há elementos suficientes para afastar a hipótese de assassinato diretamente relacionado ao passado de torturador do militar.

Os senadores também solicitam proteção para a mulher da vítima, Cristina Malhães, e para Rogério Pires, preso pela Polícia Civil fluminense, acusado de envolvimento no crime.

Malhães, de 77 anos, morreu em 24 de abril durante um assalto no sítio onde morava, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Um mês antes, ele admitiu à Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, ter participado de torturas e ações para desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar, entre eles, do ex-deputado Rubens Paiva.

Na manhã desta terça-feira (13), os parlamentares apresentaram na CDH um relatório de 18 páginas com as informações obtidas durante a viagem ao Rio de Janeiro, no dia 6 de maio. A presidente da comissão, senadora Ana Rita (PT-ES), e os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e João Capiberibe (PSB-AP) encontraram-se com o caseiro Rogério Pires, que negou envolvimento no crime. Na versão da Polícia Civil, o caseiro confessou a participação no latrocínio (roubo seguido de morte), no sítio de Malhães.

O relatório

Segundo o documento da Comissão de Direitos Humanos, o foco da investigação da Polícia Civil está em latrocínio. Os policiais, de acordo com o relatório, não privilegiaram a vida pregressa da vítima. Os senadores constataram que Rogério Pires está assustado. O caseiro, que é pai de cinco filhos, disse temer pela própria vida e pela vida dos integrantes de sua família.

Há muitas dúvidas a serem respondidas, na opinião dos parlamentares, entre elas, o motivo pelo qual os criminosos ficaram tanto tempo na casa e por que a Polícia Militar demorou 11 horas para chegar ao sítio depois de acionada.

Responsabilidade

O documento não foi votado nesta terça-feira por falta de quórum e deverá ser analisado na próxima quarta-feira (21). Antes disso, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) quer acrescentar ao texto a responsabilidade do Estado brasileiro sobre a vida de Malhães:

- Esse senhor era a principal testemunha dos crimes ocorridos na ditadura brasileira. Depois do depoimento dele à Comissão Nacional da Verdade, o Estado nada fez para assegurar-lhe a integridade. O coronel não está vivo porque houve negligência do Estado brasileiro - afirmou.

Para João Capiberibe, depois da morte do coronel, será difícil a Comissão da Verdade obter outro depoimento relevante:

- Dificilmente uma outra testemunha falará com a mesma desenvoltura do coronel Malhães. Isso praticamente encerra as possibilidade de a  comissão avançar, pois ninguém mais vai ousar prestar declarações como o coronel - lamentou o senador.

Armas

No último fim de semana, a polícia fluminense recuperou parte das armas roubadas na casa de Malhães, que era colecionador. Duas pessoas foram presas em flagrante. Nesta terça, o laudo da Polícia Civil apontou infarto como causa da morte, o que, na opinião da senadora Ana Rita, não altera a conclusão do relatório:

- O laudo atesta o infarto, mas o que motivou a ação dos bandidos? Eles ficaram na casa por quase dez horas, a  polícia disse que sumiram armas, algumas pastas e computadores - lembrou.


Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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