Debatedores defendem políticas de adaptação para mudança do clima

Soraya Mendanha | 13/05/2014, 19h30

Debatedores que participaram de audiência pública na Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas (CMMC) destacaram, nesta terça-feira (13), a importância de o governo brasileiro investir em políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas. De acordo com o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, o país manteve por vários anos o foco político na redução dos efeitos, para eliminar riscos futuros, e a agenda de adaptação à situação presente acabou ficando atrasada.

Carlos Nobre ressaltou a impossibilidade de prever os impactos futuros causados pelas atuais perturbações climáticas, já que na ciência nada é absoluto. Para ele, as adaptações não podem ser feitas espontaneamente ou como um incremento depois da ocorrência de fenômenos extremos, mas devem ser pensadas de maneira "transformacional", por exemplo, para diminuir a vulnerabilidade de algumas regiões a extremos climáticos.

- Os impactos estão acontecendo com mais celeridade do que imaginamos 20 anos atrás. Se mudanças estão acontecendo mais rapidamente temos que mudar as nossas estratégias de adaptação – disse.

O subsecretário de Desenvolvimento Sustentável da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sergio Margulis, destacou que a adaptação dos países em desenvolvimento às mudanças climáticas possui um custo muito alto. Segundo ele, o maior gasto se refere às infraestruturas e o ideal é o Brasil iniciar o processo com medidas baratas, entre elas, elaborar códigos de construção para áreas costeiras, estradas e demais infraestruturas e sistemas de alertas prevendo antecipadamente a população de possíveis desastres naturais.

Sérgio lembrou que a mudança do clima não é apenas um problema ambiental, mas "perpassa toda a agenda de desenvolvimento sustentável e econômico de um país". Para ele, os investimentos em adaptação devem ser feitos no presente projetando os impactos ambientais, antevendo quando deverão acontecer e identificando medidas de prevenção e remediação.

- Isso envolve balancear entre as necessidades certas do presente com as necessidades possíveis do futuro – explicou.

Embrapa

O pesquisador da Secretaria de Relações Internacionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Gustavo Mozzer, disse que a adaptação é uma questão fundamental para os sistemas agrícolas, que são muito expostos e vulneráveis à variação climática. Pensando na segurança alimentar e na necessidade do país aumentar a produção de alimentos frente ao aumento populacional, Gustavo explicou que a Embrapa tem investido em estudos, tecnologias e estratégias com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva de vários sistemas diminuindo o impacto ambiental.

Ele afirmou que o estudo da adaptação de sistemas agrícolas envolve uma complexidade de relações e, portanto, a necessidade de técnicos com capacidade pulverizada de conhecimentos. O investimento em estudos para aumentar a concentração de carbono nos pastos, via sistemas agrícolas bem manejados e para diminuir o uso de fertilizantes são exemplos de ações desenvolvidas pela empresa e citadas por Gustavo para adaptação das mudanças climáticas.

- Para trabalharmos a agenda de adaptação é necessária uma inter-relação de uma série de questões e áreas da ciência considerando a dimensão do Brasil e peculiaridade regionais – explicou.

Outras ações

A participação social e o diálogo entre as esferas da federação também foram citadas pelo representante do Ministério do Meio Ambiente, Thiago Mendes, como ferramentas cruciais para a construção de ações no enfrentamento e na adaptação às mudanças do clima.

Thiago explicou que o objetivo do Plano Nacional sobre Adaptação a Mudança do Clima é integrar esforços nas ações específicas desenvolvidas pelos entes federativos e acumular conhecimentos para lidar com os desafios envolvendo o tema. Segundo ele, o plano vai priorizar dez setores específicos, entre eles, o setor de água, energia, zona costeira, segurança alimentar, gestão de desastres, transportes e logística.

Thiago ainda destacou a necessidade dos bancos públicos e agências multilaterais incorporarem nos critérios de financiamento o olhar de adaptação.

- Vários dos seus aspectos são até mais importantes do que a mitigação porque independente do que se consiga mitigar o processo das mudanças climáticas já chegou e veio para ficar – disse.

De acordo com o presidente da Comissão, deputado Alfredo Sirkis, a adaptação às mudanças climáticas é uma questão ampla que se projeta no futuro, mas que já tem manifestações no presente. O setor energético foi apontado pelo deputado e pelos demais debatedores como uma área que o governo terá dificuldade de implementar ações de adaptação às mudanças do clima devido ao grande uso das hidrelétricas no país e da falta de incentivo para uso da energia eólica e solar.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: