Corina denuncia ataque à democracia na Venezuela e pede solidariedade da América Latina

Marcos Magalhães | 02/04/2014, 18h20

Um dia depois de liderar manifestação em Caracas em defesa de seu mandato, cassado pela Assembleia Nacional venezuelana, a deputada de oposição María Corino Machado pediu nesta quarta-feira (2), em Brasília, a solidariedade dos povos, dos parlamentos e dos governos da América Latina ao movimento em favor da democracia na Venezuela. No início de três horas de debates na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), ela solicitou que seu país receba a mesma atenção que obtiveram no passado recente outras nações latino-americanas onde a democracia esteve ameaçada.

- Hoje em dia, o que está em jogo é a democracia. Alguns dizem que na Venezuela há uma guerra civil, mas o que existe é uma guerra contra os civis, promovida pelo Estado. E muitos dos que foram tão ativos nos casos do Paraguai e de Honduras hoje dão as costas à Venezuela – lamentou Corina, eleita deputada em 2010 com a maior votação da história de seu país, em uma referência à reação de vários países à derrubada dos então presidentes Fernando Lugo e Manoel Zelaya.

Realizada a partir de requerimento do presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), a audiência pública atraiu grande número de senadores e deputados, além de manifestantes favoráveis e contrários à deputada. Ainda em seu pronunciamento inicial, a deputada foi interrompida por gritos de “Corina golpista”, de um grupo de militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), simpáticos ao governo de Maduro. A resposta veio em espanhol, a partir de um grupo de venezuelanos que ocupava a galeria da comissão.

Corina exibiu aos parlamentares um vídeo de três minutos com cenas de forte repressão dos participantes de manifestações contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Os jovens manifestantes foram às ruas a partir de fevereiro, segundo relatou, para protestar pacificamente contra o governo. A resposta de Maduro, disse a deputada, foi a “repressão brutal” ao movimento. Desde então, houve 2.000 detenções, 700 feridos e 62 casos de tortura grave, aí incluídas ocasiões de descargas elétricas e torturas psicológicas.

- Maduro estimula a ação de grupos paramilitares, em muitos casos junto com a Guarda Nacional. Na Venezuela não há autonomia de poderes, o sistema de Justiça está a serviço do poder, não há Estado de Direito e praticamente não existe liberdade de imprensa – afirmou.

Corina foi cassada pela Assembleia Nacional da Venezuela depois de participar de uma reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde denunciou as restrições à liberdade em seu país. Ela aceitou oferta dos representantes do Panamá para usar a cadeira daquele país no conselho para falar ao plenário da OEA. A atitude foi utilizada pelos partidários de Maduro na Assembleia Nacional para cassar seu mandato, sob o argumento de que ela teria aceitado cargo ou função de outro país. A decisão, referendada poucos dias depois pelo Tribunal Superior da Venezuela, foi contestada pela deputada, que não teve direito de defesa e foi proibida de entrar no prédio da Assembleia.

- Hoje sou deputada porque me elegeram. Isto não é ideológico, não tem nada a ver com direita e esquerda, mas sim com a diferença entre ditadura e democracia – alertou.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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