Energia, satélites e supercomputadores são novas prioridades, diz embaixador da França

Marcos Magalhães | 13/03/2014, 14h50

Três meses depois do anúncio pelo governo brasileiro de sua opção pelos caças suecos Grippen para reequipar a Força Aérea, em detrimento do francês Rafale e do norte-americano F-18, o embaixador da França no Brasil, Denis Pietton, classificou o tema como uma “página virada”. Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), ele anunciou os três novos eixos da parceria estratégica entre os dois países: energia, satélites e supercomputadores.

Convidado a fazer uma exposição sobre o atual estágio das relações bilaterais, por iniciativa do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o embaixador ressaltou o papel a ser desempenhado pela transferência de tecnologia de seu país ao Brasil.

- O que nos interessa é que mais empresas francesas se instalem no Brasil e que elas concorram para concretizar a ambição do Brasil de ser uma potencia mundial. O Brasil é a sétima economia mundial, o que motiva nosso interesse em verdadeiras transferências de know-how e de tecnologias - afirmou.

Uma das áreas em que as empresas francesas têm grande interesse, segundo observou, é a de energia, tanto no que diz respeito à exploração de petróleo na área do pré-sal, por meio da Total, como no que se refere à produção de energia hidrelétrica e nuclear, com as empresas Suez e Areva. No que se refere aos satélites, ele citou a participação da francesa Thales na construção de um satélite brasileiro de uso civil e militar. O embaixador mencionou ainda as negociações entre o governo brasileiro e a empresa Bull para a produção de supercomputadores.

No setor de defesa, se a França não conquistou a preferência do Brasil para a construção de caças, por outro lado já coopera com o Brasil na produção de cinco submarinos – um dos quais será movido a propulsão nuclear. A França, segundo ressaltou Pietton, é o primeiro país nuclear a transferir esse tipo de tecnologia. O embaixador anunciou ainda que estão em andamento negociações para a construção de navios porta-aviões para a Marinha brasileira. A senadora Ana Amélia (PP-RS) perguntou se esse projeto poderia “compensar a frustração” dos franceses pela escolha dos Grippen.

- A senadora falou de frustração. Não usaria essa palavra. Pensamos que o Rafale é um excelente avião. O Brasil fez uma escolha que respeitamos, a página está virada, há outros mercados para o Rafale. A construção de um porta-aviões requer muita tecnologia. Temos consultas a respeito do tema, mas ainda há a questão do avião a ser usado - relatou.

Mercosul

Em resposta ao presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), o embaixador francês afirmou que os europeus estão prontos para a negociação de um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Ele recordou, porém, que as negociações serão complexas e exigirão tempo para serem concluídas. Pietton disse que o Brasil tem barreiras tarifárias e não tarifárias “importantes” e refutou os argumentos de que o acordo não teria ainda sido alcançado em função de subsídios europeus à agricultura.

- No que concerne à agricultura, há percepções um pouco erradas desse lado do Atlântico. A União Europeia é a primeira potencia agrícola mundial e já é “fortemente” aberta aos produtos agrícolas brasileiros – disse Pietton.

Ao final da audiência, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) recordou ter ascendência francesa e anunciou que seu livro sobre Renda Básica de Cidadania será publicado ainda neste ano na França.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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