Por falta de divulgação, Copa do Mundo pode atrair poucos estrangeiros, afirmam representantes do setor de turismo

mmcoelho | 12/06/2013, 14h50

A escassez de recursos do Ministério do Turismo e a pouca divulgação dos grandes eventos que serão realizados no Brasil a partir deste ano preocupam especialistas do setor. Essa e outras questões relacionadas à Jornada Mundial da Juventude, à Copa das Confederações, à Copa do Mundo de 2014, às Olimpíadas e Parolimpíadas de 2016 foram debatidos nesta quarta-feira (12) em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado (CDR).

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Enrico Fontes, afirmou que os grandes eventos vão beneficiar projetos de infraestrutura e logística e vão favorecer a divulgação do Brasil no exterior, o fluxo de turistas, os investimentos estrangeiros e a geração de empregos diretos e indiretos no país.

- Na visão da Embratur, o setor está investindo e gerando 20 milhões de empregos até 2020 – disse.

A expectativa, segundo Fontes, é de que a Copa do Mundo mobilize 600 mil turistas estrangeiros e 3 milhões de turistas brasileiros. A estimativa é de que o evento acrescente R$ 183 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil até 2019.

No entanto, o presidente da Federação de Convention & Visitors Bureaux de São Paulo (FC&VB-SP), Márcio de Oliveira, está preocupado com a promoção do evento. Segundo Oliveira, o Comitê Gestor da Copa do Mundo de 2014, o Gcopa, está ignorando a divulgação e o Ministério do Turismo apenas realiza obras de infraestrutura.

Oliveira afirmou que o Gcopa aprovou 96 projetos de promoção da Copa do Mundo, mas, até agora, não executou nenhum.

- Se nós não tomarmos o devido cuidado com o Brasil, nós não vamos chegar em 600 mil turistas. Não adianta fazer milagre. A Copa do Mundo não se vende sozinha – afirmou.

A senadora Lídice da Mata (PSB-BA), autora do requerimento da audiência pública, também criticou a falta de promoção dos grandes eventos que o Brasil vai sediar. Ela defendeu que o Ministério do Turismo reivindique sua função de promover o turismo no país e que a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) também faça o mesmo quanto à promoção do turismo brasileiro no mercado internacional.

- Não poderia caber ao Gcopa a promoção do turismo no Brasil, porque o Gcopa nem existia, não tem tradição nem conhecimento algum de promoção turística. Quem tem conhecimento é a Embratur, com todos os seus problemas e dificuldades – argumentou a senadora.

Oliveira ainda alertou para uma campanha que estaria sendo realizada na Europa para desestimular os turistas a virem ao Brasil em razão da violência.

- Isso está acontecendo na Europa de forma bastante significativa – informou.

Desoneração do setor

O presidente da FC&VB-SP recomendou a ampliação do orçamento do Ministério do Turismo da desoneração do setor. No entanto, a senadora Lídice da Mata afirmou que, antes de se falar em desoneração, é preciso saber a contrapartida do setor para beneficiar o turismo, como a diminuição das tarifas dos hotéis.

- O Rio de Janeiro pratica uma tarifa acima da média de mercado nacional. Não é possível fazer turismo no Brasil, fora dos grandes eventos, atraindo turista internacional com a taxa média de hospedagem cobrada pelo Rio de Janeiro – criticou Lídice.

Aviação e Navegação

A aviação do país é um setor competitivo no cenário mundial, mas pode melhorar, reduzindo o custo de querosene para as aeronaves e a tributação sobre o combustível. Essa é a visão do presidente da Confederação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.

Segundo Sanovicz, enquanto o galão de querosene de aviação custa em torno de US$ 3,00 nos Estados Unidos e na China, no Brasil custa US$ 5,00.

- Não há tributação sobre o querosene de aviação em nenhum outro país. O Brasil é o único que faz isso.  Por quê? Porque o querosene de aviação é considerado um insumo estratégico em todo o planeta – explicou.

Para Sanovicz, há três desafios para o setor de aviação no país. O primeiro seria diminuir o custo de tributos e de tarifas e melhorar a infraestrutura, o que aumentaria a competitividade. O segundo está relacionado à sustentabilidade e à otimização de rotas aéreas, e superá-lo poderia reduzir o tempo dos voos. E, por fim, há o desafio de capacitar as pessoas para receber estrangeiros de diversas línguas e culturas.

O presidente da Confederação Nacional do Turismo (CNTur), Nelson Pinto, disse que a entidade vai promover o turismo nos entornos das capitais do país durante os eventos esportivos.  No entanto, a senadora Lídice da Mata disse que, para isso, seria preciso melhorar a aviação regional.

- Nós não temos uma aviação regional que possa garantir que alguém que vá visitar Salvador faça, num dia descanso, uma visita sequer à Chapada Diamantina, porque não temos voos diários para a Chapada - disse a senadora.

Navegação

A navegação turística, por sua vez, está enfrentando um momento de enfraquecimento, segundo o presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar), Ricardo Amaral. Segundo Amaral, os navios para cruzeiros marítimos no Brasil vão diminuir de 20 para 15 até 2014.

- O Brasil caiu de 5º maior destino, com mais de 800 mil turistas viajando por ano, para 7º maior destino em 2011 e a Austrália também deve nos ultrapassar nesta temporada – disse.

Segundo Amaral, o problema da tributação sobre os combustíveis também afeta o setor da navegação turística, pois faz com que os navios desviem a rota do Brasil para outros países, em busca de um combustível mais barato.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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