Mulher de Cachoeira e suposto araponga se calam

Anderson Vieira | 07/08/2012, 13h30

Invocando o direito constitucional de ficar calada, a atual mulher de Calinhos Cachoeira, Andressa Mendonça, negou-se a falar à comissão parlamentar mista de inquérito que investiga as relações do contraventor com agentes públicos e privados nesta terça-feira (7).

“Usarei o direito constitucional de ficar em silêncio” foram as únicas palavras que saíram da boca de Andressa, dispensada em pouco menos de cinco minutos pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), não sem antes ser alvejada por um batalhão de cinegrafistas e fotógrafos, que lotaram a sala 2 da Ala Nilo Coelho do Senado Federal.

Andressa ficou todo o tempo acompanhada do advogado dela, José Gerardo Grossi, e chegou a sorrir por alguns momentos. Ainda antes de se retirar, foi chamada de “mentirosa e cascateira” pela senadora Kátia Abreu, que mais cedo denunciara à comissão ter sido vítima de uma tentativa de chantagem por parte de Andressa.

O segundo convocado do dia, o policial federal aposentado Joaquim Gomes Thomé Neto também foi rapidamente dispensado, diante da negativa em prestar esclarecimentos. Depois de muita insistência do senador Vital do Rêgo, ele ainda foi além:

– Não fui nem denunciado em nenhuma das duas operações. Não tenho nada para colaborar. Não conheço nada – disse, referindo-se às operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal.

O silêncio dos dois convocados provocou protestos de alguns parlamentares, que voltaram a questionar o atual rito da presidência da CPI, que dispensa testemunhas e acusados quanto estes evocam o direito constitucional de não fornecerem provas contra si, amparados ou não por habeas corpus. O assunto deve ser novamente discutido na próxima reunião administrativa da comissão, marcada para 14 de agosto.

Denúncia

Na volta das reuniões da CPI após o recesso parlamentar de julho, a senadora foi a primeira a pedir a palavra para denunciar ameaças, as quais, na opinião dela, teriam partido de Andressa Mendonça.

Segundo Kátia Abreu, Andressa Mendonça, em declarações à imprensa, teria prometido desmoralizá-la e ameaçou apresentar um dossiê contra ela.

A senadora também informou que foi ameaçada por meio de um telefonema anônimo, que teria partido de um orelhão em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, em razão de sua atuação contra Cachoeira na CPI. Kátia Abreu suspeita que a ligação teria sido feita por ordem de Andressa.

– Vou continuar fazendo o que sempre fiz. Não tenho medo, e ela não vai me intimidar – esbravejou.

Questões administrativas

A maior parte da reunião desta terça-feira foi dedicada a temas de caráter administrativo. Parlamentares reclamaram, por exemplo, da demora da Polícia Federal para providenciar o envio de provas e documentos à comissão.

Alguns deputados e senadores voltaram a defender a criação de subrelatorias e cobraram ainda a votação de requerimentos que estão na pauta. São mais de 200 aguardando deliberação, o que deve acontecer em 14 de agosto.

O senador Fernando Collor (PTB-AL) foi um dos que cobraram a votação das matérias. O parlamentar vem defendendo a convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel; do dono da Editora Abril, Roberto Civita, e do jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja em Brasília. Ele quer explicações de Gurgel por ter demorado a tomar providência quanto ao inquérito da Operação Vegas. Sobre Civita e Policarpo, Collor alega que há suspeitas de que a revista mantém ligações com a organização criminosa.

Nesta quarta-feira, a CPI tentará ouvir a ex-mulher de Carlos Cachoeira, Andréa Aprígio de Souza, que já obteve liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) para ficar calada durante o depoimento. Outro convocado é Rubmaier Ferreira de Carvalho, apontado como responsável pela abertura de empresas que seriam usadas como fachada por Cachoeira para lavar dinheiro.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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