Demóstenes Torres: “não acabem com a minha vida”

Da Redação | 11/07/2012, 14h45

Durante os 35 minutos que antecederam a votação que custou-lhe o mandato, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) apresentou ao Senado a sua última defesa dizendo-se vítima de um massacre orquestrado pela mídia. Comparando-se por duas vezes a Cristo, ele lembrou o julgamento que o levou à cruz.

- Eu sou um bode expiatório, fui moído e massacrado. Por favor não lavem as mãos sobre mim. Eu não posso ser julgado como exemplo. Seis governadores e dezenas de deputados federais também se relacionavam com Cachoeira. Deixem-me ser julgado pela justiça – pediu.

Ele usou o tempo para rebater as denúncias, entre as quais de que teria sido o braço político da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira, envolvido com o jogo do bicho em Goiás.

- Fui braço político, sim. Fui braço político das crianças do Brasil, porque em todos os projetos contrários à pedofilia eu estava lá para punir o pedófilo. Fui braço político dos idosos, porque relatei com muita dignidade o Estatuto do Idoso. Fui braço político dos pobres, porque o presidente Lula me escolheu para relatar a prorrogação do fundo de erradicação da pobreza.

E acrescentou:

- Todos os ministros do Supremo me procuravam para resolver os problemas do Supremo, do STJ, do TST. Pergunte a eles se eu pedi algo de errado. Eu sou pai do Ministério Público, coloquei a isonomia plena dos membros com os magistrados. O país acaba de receber a lei de lavagem de dinheiro, na qual eu trabalhei desde o início com a Polícia Federal.

Acusação

Demóstenes também rebateu os pontos principais da acusação feita a ele no Senado. Negou ter atrasado projeto contrário ao jogo do bicho, uma vez que ele estaria parado na Câmara, não no Senado. Também contou ter apresentado ao Ministério Público extratos bancários que desmentiam a informação de que teria um milhão na sua conta corrente. Ele negou, ainda, que cobrara R$ 3 mil de Cachoeira para pagar taxi-aéreo.

O senador cassado refutou a tese da imprensa de que ele teria quadruplicado seu patrimônio nos últimos anos. E corrigiu a informação do jornal Estado de S. Paulo de que teria comprado um apartamento de 700 m2. De acordo com ele, o imóvel é 300 metros menor, pois teria sido divulgada a área total, não a privativa.

- Esse imóvel foi financiado em 30 anos. O que minha mulher pagou à vista está na declaração de imposto de renda. O restante foi parcelado em 30 anos, e vou quitar quando tiver 81. Tenho um carro ano 2010 e 20% de uma faculdade no interior de minas que não me rende nada.

Sobre o uso de um rádio Nextel supostamente pago por Cachoeira, Demóstenes afirmou ser o aparelho o seu melhor advogado de defesa.

- Não foram gravadas 250 mil horas? Em que momento eu apareço pedindo dinheiro, propina ou cometendo ilegalidades? Quase quatro anos de gravações e o que existe contra mim? Nada! – frisou. Eu não menti aqui, minha conduta parlamentar é impecável. Quantas vezes eu procurei algum dos senhores para pedir qualquer favor a Carlos Cachoeira, ou qualquer outro? – indagou Demóstenes.

Ele assinalou que o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, estaria convicto de que ele não faz parte da quadrilha. Concordando que o julgamento do Senado é político e, portanto, diferente do judicial, desabafou:

- O julgamento político é diferente daquele feito por um juiz porque não são cobradas as provas, mas isso não significa que não é necessário ter prova para condenar um senador. O que pega mal para o Senado é punir um inocente.

Por fim, colocou-se contrário ao dito popular usado contra ele: “diga-me com quem andas e te direi quem és”.

- Cristo andava com Judas, portanto isso é bobagem. Cada qual pague pelo que fez. Se Carlos Cachoeira cometeu crimes, cana nele. A culpa é dele, não é minha. Eu não fiz nada. Não existe uma prova contra mim.

Demóstenes, antes de terminar, fez uma reflexão sobre o perdão.

- Hoje eu sei que muito do que vemos nos inquéritos não é verdade. Me perdoem aqueles a quem levianamente eu ofendi. E advirtam aos colegas mais jovens, como conselho mesmo. Não entrem por esse caminho, é uma bobagem pegar minutos de fama e ir para a televisão atacando um colega. Eu aprendi duramente, amargamente.

Explicou, por fim, a razão de não haver renunciado antes:

- Não poderia sair do Senado sem dar explicação para minha mulher, meus filhos e minha neta, meus amigos e eleitores. Quem cassa senador é senador, não é a imprensa. Por favor me deem a oportunidade de provar minha inocência. Não acabem com a minha vida, nem me deixem disputar outra eleição em 2030.

Menos de dez minutos após descer da tribuna, Demóstenes foi cassado por 56 votos favoráveis, 19 contrários e cinco abstenções.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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