Relatório da CPI propõe acabar com cartelização do direito autoral

raissa-abreu | 25/04/2012, 18h44

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar possíveis irregularidades no Escritório Central de Arrecadação (Ecad) divulgou, em reunião realizada nesta terça-feira (24), o relatório de suas atividades. O texto, que será votado na próxima quinta (26), traz o resultado da investigação parlamentar sobre denúncias de irregularidades na cobrança e no pagamento dos direitos autorais, com recomendações ao Ministério Público aos Poderes Executivo e Legislativo e à Ordem dos Advogados do Brasil.

A partir de uma série de audiências públicas e oitivas realizadas em todo o país, a comissão recomendou que sejam remetidos ao Ministério Público Federal e ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro os depoimentos e demais documentos constantes na CPI, com recomendação para que o órgão indicie, pela prática de crime contra a ordem econômica (Lei nº 8.137/1990, art. 4º, II – “formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando: a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas; Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa”), as seguintes pessoas:

- José Antônio Perdomo Corrêa (Diretor Superintendente da União Brasileira de Compositores);

- Roberto Correa Mello (Presidente da Associação Brasileira de Música e Artes);

- Marco Venício Mororó de Andrade (Presidente da Associação de Músicos Arranjadores e Regentes);

- Denis Lobo (Presidente da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música);

- Jorge de Souza Costa (Diretor Administrativo e Financeiro da Sociedade Brasileira de Administração e Proteção dos Direitos Intelectuais);

- Marcel Camargo de Godoy (Presidente da Associação de Intérpretes e Músicos)

- Chrysóstomo Pinheiro de Faria (Presidente da Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais)

- Glória Cristina Rocha Braga Botelho (Superintendente do ECAD)

De acordo com as conclusões do relatório, o surgimento do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição dos Direitos Autorais – Ecad, em 1973, representou uma grande conquista dos autores brasileiros. Mas, em seus 40 anos de existência, o Ecad se degenerou.

“De instituição, que deveria ser um meio pelo qual os titulares de direitos autorais perceberiam o que lhe é devido, o Ecad tornou-se um fim em si mesmo. Voltado para seu próprio umbigo – e para os interesses de seus controladores e dirigentes – o Ecad transmudou-se em cartel, pernicioso para a ordem econômica brasileira, e muito distante do que reivindica a classe artística, protagonizando toda sorte de desvios e ilícitos” –  aponta o relatório.

Formado por nove associações, sendo sete associações efetivas (UBC, ABRAMUS, AMAR, ASSIM, SBACEM, SICAM, e SOCINPRO) e duas associações administradas, o Ecad arrecadou, segundo o relatório da CPI, R$ 540,5 milhões em 2011. Esses recursos são recebidos não em seu próprio nome, mas em nome dos associados das sociedades que compõem o ECAD (artistas, compositores e demais titulares de direitos autorais).

O ECAD e as associações, como depositárias desses recursos, possuem deveres fiduciários tanto com relação ao grupo difuso que a elas contribui, quanto com o grupo difuso que dela devem receber. Dessa relação fiduciária emerge a necessidade de regulação do sistema de gestão coletiva.

Projeto de lei

Para regular esse sistema, o relatório da CPI propõe, nas recomendações ao Poder Legislativo, que o Congresso Nacional aprove, em regime de urgência, um projeto de lei que introduz o elemento negocial no sistema de gestão coletiva de direitos autorais. A proposição combate a formação de cartel, regula a associação de novas entidades e introduz um sistema de homologação de preços pelo Poder Público.

O anteprojeto de lei atribui ao Ministério da Justiça, através da criação de Conselho e Secretaria específicos, a competência para regulamentar e mediar a Gestão Coletiva de Direitos Autorais.

Dispõe-se que as associações que pretendem exercer a cobrança em questão serão obrigadas a comprovar que atendem aos requisitos estabelecidos em lei, bem como a divulgar seus estatutos e respectivas alterações, as atas das assembleias ordinárias e extraordinárias que realizem os acordos que possuam com associações estrangeiras equivalentes e outros dados relevantes, apresentar relatórios de atividades e realizar auditorias externas efetivas.

Recomendações ao Executivo

Ao Poder Executivo, o relatório propõe que seja criada no Ministério da Justiça a Secretaria Nacional de Direitos Autorais – SNDA e o Conselho Nacional de Direitos Autorais – CNDA, estruturas administrativas com competência para regular, mediar conflitos e fiscalizar as entidades de gestão coletiva de direitos autorais.

Outra proposta é que, após a criação da Secretaria e do Conselho, o Ministério da Justiça abra um amplo debate com a sociedade sobre a pertinência de criação de uma autarquia própria, autônoma, com competência para dispor sobre a gestão coletiva de direitos autorais.

A CPI foi criada em junho do ano passado para investigar supostas irregularidades praticadas pelo Ecad na arrecadação e na distribuição de recursos oriundos do pagamento referente ao direito autoral de produções artísticas musicais, e as possíveis ocorrências de abuso da ordem econômica e da prática de cartel.

Em quase um ano de trabalho, a CPI realizou 17 reuniões, das quais 11 foram destinadas a oitivas, audiências públicas e diligências para colher o depoimento de artistas, produtores, especialistas, dirigentes e funcionários do Ecad.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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