Nova base na Antártica custará R$ 100 milhões

Anderson Vieira | 06/03/2012, 13h50

O ministro da Defesa, Celso Amorim, informou aos senadores, nesta terça-feira (6), que a construção de uma nova base científica na Antártica só deve começar no verão de 2013/2014. A unidade vai substituir a Estação Comandante Ferraz, parcialmente destruída por um incêndio em 25 de fevereiro.

Durante audiência conjunta das comissões de Ciência e Tecnologia (CCT), Meio Ambiente (CMA) e Defesa Nacional (CRE), o ministro esclareceu que primeiramente vai ser elaborado um pré-projeto ao longo deste ano. Depois, será necessário submeter o projeto detalhado aos países integrantes do Tratado da Antártica, o que deve ocorrer em maio de 2013.

– A experiência nos mostra que, entre o projeto e a construção de uma base na Antártica, são necessários de três a quatro anos, desde que os recursos venham de maneira continua – explicou o ministro.

O valor exato para erguer a nova estação não foi especificado por Celso Amorim. Todavia, segundo ele, o custo médio de uma estação moderna e de porte “razoável” é de cerca de R$ 100 milhões. O plano de construção deve levar em consideração experiências de outros países, como Espanha e Coreia do Sul, que acabaram de construir bases naquele continente.

Futuro da pesquisa

O professor e diretor do Centro Polar e Climático da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Simões, informou que o incêndio não paralisou totalmente as pesquisas, e cerca e 60% dos projetos estão preservados. A preocupação, agora, acrescentou ele, é manter plenamente os trabalhos que não foram afetados.

O pesquisador informou que grande parte dos dados referentes às pesquisas está no Brasil e continuarão a ser estudados. Como observou, “um cientista maduro não iria perder seus dados de décadas numa tacada só”.

Até a construção da nova base, os profissionais poderão continuar trabalhando com a ajuda de dois navios polares, o Ary Rongel, que deve ficar mais no apoio logístico; e o Almirante Maximiano, com cinco laboratórios e capaz de acomodar 35 pesquisadores.

Além disso, os estudos devem continuar em módulos emergenciais, a serem construídos com habitabilidade e estrutura de pesquisa, e nos laboratórios da base que não foram diretamente atingidos pelo incêndio. Para tanto será necessário ainda reativar a energia.

Debates

Durante a fase de debates, os senadores foram unânimes na defesa das pesquisas e da presença de brasileiros na Antártica. O presidente da CMA, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que comandou a audiência, ressaltou que o Programa Antártico “tomará outra dimensão” após o acidente. Já o presidente da Frente Parlamentar Pró-Antártica, senador Cristovam Buarque (PDT-DF) reafirmou o compromisso de continuar lutando por mais recursos por meio de emendas ao Orçamento.

Tragédia

O incêndio na base Comandante Ferraz começou na casa das máquinas, na madrugada de sábado (25), no local onde ficam os geradores que fornecem energia à estação. O acidente deixou dois militares mortos e 70% da base de pesquisa destruídos. As partes mais atingidas foram o prédio principal e alguns dos laboratórios. Os refúgios (módulos isolados para casos de emergência), os tanques de combustíveis e o heliponto, que são estruturas isoladas do prédio principal, escaparam das chamas.

O comandante da Marinha, Júlio Soares de Moura Neto, considerou o ocorrido uma fatalidade e negou que a tragédia tenha acontecido por falta de recursos ou de manutenção nos equipamentos.

– Há um inquérito em andamento e perícias sendo realizadas, mas não temos dúvida de que foi uma fatalidade – afirmou, durante a reunião conjunta.

A pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP), Rosalinda Carmela Montone, disse que, diferentemente do que a imprensa tem divulgado, a Estação Comandante Ferraz não estava “acabada”. Ela disse que a base brasileira no Continente Antártico estava em “muito boas condições”. Mas reconheceu, no entanto, a necessidade de se construir uma unidade “mais segura e ambientalmente correta”.

A Estação Antártica Comandante Ferraz completou 30 anos em janeiro deste ano. Localizada na Ilha Rei George, a base entrou em operação em 1984. Atualmente, as principais linhas de pesquisa lá desenvolvidas tratam de biologia marinha, de monitoramento ambiental e da camada de ozônio.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: