"Cometi apenas um erro", afirma Waldomiro Diniz

Da Redação | 11/08/2005, 00h00

Durante as mais de cinco horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, o ex-chefe da Subsecretaria de Assuntos Parlamentares da Casa Civil da Presidência da República e ex-presidente da Loteria do Rio de Janeiro (Loterj) Waldomiro Diniz disse que cometeu "apenas um erro": repassar, em 2002, R$ 100 mil para o petista Geraldo Magela, então candidato ao governo do Distrito Federal. De acordo com Waldomiro, o dinheiro foi uma doação do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O depoente enfatizou que resolveu contrariar a orientação dos seus advogados e confirmar a doação devido a processo judicial movido por Magela contra ele.

O depoente compareceu perante a CPI protegido por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Antes do início do depoimento, foi exibido o vídeo em que Waldomiro é flagrado pedindo propina a Cachoeira. O ex-subchefe da Casa Civil afirmou, em resposta ao relator da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que não extorquiu Cachoeira, como mostrou a gravação, "uma fração" da conversa, segundo ele. Waldomiro confirmou o encontro com o "bicheiro", mas disse que defendia interesses de "um amigo", Armando Dile, consultor de marketing que teria sido convidado para trabalhar com Cachoeira. O depoente acusou Carlos Augusto Ramos de solicitar a ele que alterasse edital de licitação da Loterj.

Em resposta ao senador Alvaro Dias (PSDB-PR), Waldomiro informou que nunca foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e que foi convidado para trabalhar na Loterj pelo ex-governador Anthony Garotinho. Também disse que nunca atuou como elo entre a direção nacional do PT e o ex-governador do Rio de Janeiro. Questionado por Garibaldi, o depoente confirmou que contrariou interesses de Cachoeira ao não permitir a instalação de 20 mil máquinas de loteria pelo empresário no Rio de Janeiro.

Waldomiro também afirmou ao senador Geraldo Mesquita Júnior (PSOL-AC) que morou em um apartamento funcional com o ex-ministro da Casa Civil, o hoje deputado federal José Dirceu (PT-SP), por um período de "aproximadamente um ano e alguns meses". Segundo Waldomiro outras pessoas também moravam no apartamento e todos dividiam as despesas.

O ex-assessor da Casa Civil afirmou que tinha conhecimento de que os nomes indicados para ocuparem cargos no governo passavam pelo crivo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Waldomiro explicou ao relator da comissão que não se considera amigo de Marcelo Sereno que, segundo afirmou, tratava das nomeações para o Palácio do Planalto.

Ainda dirigindo-se a Garibaldi, Waldomiro disse que não tinha interesse na renovação de contrato entre a empresa multinacional Gtech e a Caixa Econômica Federal para o fornecimento de equipamentos de loteria. Negou também que tenha mantido encontro com os diretores daquela instituição financeira para tratar do assunto e disse que as acusações que pesam contra ele nesse sentido são inverídicas.

- Reitero, jamais recebi de Cachoeira nenhum centavo, a não ser a doação destinada para a campanha de Magela. Estou sendo acusado de indicar um consultor que não conheço, não peguei um centavo em proveito próprio, não participei da renovação do contrato da Caixa com a Gtech. estão tentando me envolver isso, não sei com qual objetivo. Não conheço Rogério Tadeu Buratti, não conheço a MM Consultoria nem Walter Santos Neto - afirmou Waldomiro, defendendo-se da acusação de ter sugerido que a Gtech contratasse Buratti para facilitar o processo de renovação do contrato com a Caixa.

Já para o senador Leonel Pavan (PSDB-SC), Waldomiro confirmou que fazia visitas diárias à Câmara dos Deputados no período de votação de projetos, em decorrência das funções desempenhadas no cargo de assessor parlamentar. Ele afirmou que não participava de discussões e que não intermediava a liberação de recursos públicos. Pedidos formais nesse sentido, segundo ele, deveriam ser encaminhados diretamente ao ministério pertinente. Waldomiro também ressaltou que a execução orçamentária em 2003 "foi pífia". O depoente também afirmou que não tinha "nada a ver com as atribuições" de Sílvio Pereira e Delúbio Soares.

Questionado sobre quando tomou conhecimento da gravação em que aparece pedindo propina, o ex-presidente da Loterj relatou que, em janeiro de 2003, o jornalista Mino Pedrosa o informou que estava escrevendo uma matéria baseado em gravações de posse de Cachoeira em que Waldomiro aparecia pedindo propina ao empresário. Waldomiro disse que se encontrou com Cachoeira para pedir explicações. Segundo ele, Cachoeira teria dito que o fato era falso e que o jornalista estaria em sua "folha de pagamento", ganhando R$ 20 mil mensais e recebendo ordens dele. Já ao responder perguntas dos senadores Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ele negou conhecer qualquer fato referente ao assunto "mensalão".

Também participaram da oitiva os senadores Flávio Arns (PT-PR), Juvêncio da Fonseca (PDT-MS), Magno Malta (PL-ES), Romeu Tuma (PFL-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

MAIS NOTÍCIAS SOBRE: